quinta-feira, 31 de maio de 2007

OS NOMES DAS ILHAS

Como é natural, sendo as ilhas do arquipélago desertas, foi necessário baptizá-las. No testamento do Infante D. Henrique, de 1460, são assim designadas as ilhas dos Açores: Santa Maria, S. Miguel, Ilha de Jesus Cristo, Graciosa, S. Luís, S. Dinis, S. Jorge, Santa Iria e S. Tomás.
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Tradicionalmente, dizia-se que as ilhas receberam os respectivos nomes de acordo com o calendário litúrgico, isto é, achada no dia de S. Miguel, ficava a chamar-se S. Miguel e por aí fora...
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Investigações, talvez mais fundamentadas, dizem-nos que Santa Maria e S. Miguel devem os seus nomes, respectivamente, à devoção do Infante D. Henrique e do Infante D. Pedro por esses santos. Afinal, os nomes da maior parte das ilhas estão associados à Ordem de Cristo, da qual era Mestre o Infante D. Henrique. Então:
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© S. Dinis: foi o rei D. Dinis que instituiu a Ordem de Cristo;

© Santa Iria: tinha este nome a santa mártir, natural de Tomar, sede da Ordem;

© S. Tomás: o santo a quem é dedicada a capela do Convento de Tomar;

© Jesus Cristo: o próprio nome da Ordem;

© S. Luís: santo de que o Infante D. Henrique era também muito devoto.

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Como vemos, algumas ilhas mantiveram os nomes originais. Outras mudaram de nome: a ilha de Jesus Cristo passa a Terceira (por ter sido a terceira a ser encontrada) [1], a ilha de S. Dinis passa a Faial, a ilha de S. Luís fica conhecida por Pico (por causa da enorme elevação, ao centro, e que é o ponto mais alto de Portugal), Santa Iria dá lugar a Flores e S. Tomás passa a Corvo.
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[1] Daniel de Sá apresenta "outra possível origem para o nome da Terceira. Não é muito crível que, tendo ela um nome tão nobre como o de Ilha de Jesus Cristo, passasse a ser Terceira, apenas por ter sido a terceira na ordem do descobrimento, e isto umas décadas depois de achada. Parece plausível que tal tenha acontecido por a estas ilhas se chamar as Terceiras", (por razões que já referimos) "e que, por ser aquela o destino mais frequente de quem para cá vinha, terá passado a ser referida apenas como Ilha Terceira pelos marinheiros, e estes eram os principais padrinhos das terras descobertas."
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CURIOSIDADES: Os açorianos atribuíram uma cor às suas 9 ilhas. Assim:
Santa Maria - Ilha Amarela (pelas giestas)
S. Miguel - Ilha Verde (pelos prados e matas)
Terceira - Ilha Lilás (pelas latadas de glicínias ou lilases)
Graciosa - Ilha Branca (pelas suas rochas claras)
S. Jorge -Ilha Vermelha (pela flor do café que lá se chegou a cultivar)
Pico - Ilha Preta (pela rocha vulcânica)
Faial - Ilha Azul (pelos “novelos” de hortênsias azuis)
Flores - Ilha Rosa ((pelas azáleas)
Corvo - Ilha Castanha (pelas vacas corvinas) [1]
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[1] Esta foi a versão que me foi fornecida por antigos alunos meus da Ribeira Grande.
O meu bom amigo Daniel de Sá fez-me o favor de mandar a devida correcção, na qual confio plenamente, que reproduzo e muito agradeço:
"Vi as cores atribuídas a cada ilha dos Açores, mas com algumas imprecisões. São Jorge não é vermelha, e muito menos por causa do café, que é coisa recente, só experimentada depois do 25 de Abril. É castanha, e suponho que por causa da Ponta dos Rosais, a primeira que se vê indo de Oriente, onde há umas rochas de uma cor espectacular (daí o nome). Aqui vai a lista completa, copiada de um sítio sobre as Ilhas do Triângulo: No caso das ilhas do "Triângulo", o Faial é a ilha Azul, o Pico a ilha Cinzenta e São Jorge a ilha Castanha. E por curiosidade aqui ficam as cores das restantes ilhas, assim as Flores é a ilha Amarelo Torrado, o Corvo a ilha Cor-de-rosa, São Miguel a ilha Verde, Santa Maria a ilha Amarelo Claro, a Terceira a ilha Lilás e finalmente a Graciosa a ilha Branca."

quarta-feira, 30 de maio de 2007

AÇORES PORQUÊ?

O nome de Açores, dado ao arquipélago recém-descoberto, é bastante polémico.
Segundo a tradição, este nome teria resultado da abundância das aves de rapina com o mesmo nome encontradas pelos descobridores nas ilhas.
Vejamos o relato de Diogo Gomes:
"Em certo tempo o Infante D. Henrique desejando descobrir logares desconhecidos no Oceano occidental com o intuito de reconhecer se existiam Ilhas ou Terras firmes além das descriptas por Ptolomeu, mandou caravellas em busca destas terras. Partiram e viram terra... e vendo que eram Ilhas entraram na primeira, acharam-n'a deshabitada, e andando por ella encontraram muitos milhafres ou açôres, e outras aves; e passando à segunda que hoje se chama Ilha de S. MIguel..., acharam muitas aves e milhafres... D'ali viram outra Ilha que ne actualidade se chama Ilha Terceira, a qual á similhança da ilha de S. Miguel, estava cheia de... muitos açôres."
A verdade é que este relato não faz uma distinção clara entre milhafres e açores. Mais tarde, Gaspar Frutuoso, verificando a não existência de açores mas sim de milhafres, admitiu que os descobridores teriam confundido os dois tipos de aves.
A partir daqui, aceitou-se este equívoco na identificação dos milhafres (ou queimados) que, ainda hoje, cruzam os céus dos Açores.
José Agostinho defende, todavia, que não havia, de início, açores ou milhafres nas ilhas, e que estes últimos foram para lá levados pelos portugueses. E, baseando-se no testemunho dum cosmógrafo alemão, Martim Behaim, que viveu alguns anos nas ilhas, ainda no séc. XV, avança uma outra teoria.
Diz assim o alemão: "... finalmente descobriram estas dez ilhas e, tendo desembarcado, nelas não acharam senão desertos e aves tão domésticas que não fugiam de ninguém, pois como não havia vestígios de homens, nem de quadrúpedes, esta era a causa de não serem as aves espantadiças; e assim deram a estas Ilhas o nome de Ilhas dos Açores."
José Agostinho conclui, então, que se a ave que se deixa domesticar facilmente, se torna mansa e não foge de ninguém é o açor, é natural que os marinheiros portugueses viessem dizer para Portugal que tinham descoberto umas ilhas onde as aves eram tão mansas como os açores. Teriam ficado, assim, conhecidas como as Ilhas dos Açores.
É, pelo menos, uma teoria interessante. Mas a verdade... só a sabem os navegadores portugueses de quatrocentos.
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"Quanto à origem do seu nome, desde o século XVI que se levanta a dúvida, pensando-se que os descobridores, ao verem milhafres, os tenham confundido com açores. Mas há quem não aceite a estranheza deste baptismo. Gonçalo Velho Cabral que, a mando do Infante D. Henrique (quinto filho de D. João I e o principal impulsionador dos Descobrimentos), organizou o povoamento de Santa Maria e São Miguel, talvez tenha sido também o padrinho destas ilhas honrando Nossa Senhora dos Açores, que se venera na antiquíssima igreja gótica de Aldeia Rica, na Beira Alta, que era da sua especial devoção. Além deste nome, e durante algumas décadas, outro andou juntamente com ele, ou foi usado em vez dele, em boca de marinheiros ou cartas de marear. Ilhas Terceiras lhes chamavam, por terem sido descobertas depois dos arquipélagos das Canárias e da Madeira."
Texto de Daniel de Sá (que ouso publicar e que acrescenta nova teoria)

terça-feira, 29 de maio de 2007

A Beleza das Ilhas e da Alma de Antero

"As grandes, as belas, as boas coisas só se fazem quando se é bom, belo e grande. Mas a condição da grandeza, da beleza e da bondade, a primeira e indispensável condição não é o talento, nem a ciência, nem a experiência: é a elevação moral, a virtude de altivez interior, a independência da alma e a dignidade do pensamento e do carácter."
Antero de Quental

sábado, 26 de maio de 2007

A DESCOBERTA DOS AÇORES

Estátua de Gaspar Frutuoso e Igreja Matriz (Ribeira Grande)

GASPAR FRUTUOSO nasceu em Ponta Delgada, em 1522. Estudou Artes e Teologia na Universidade de Salamanca, entre 1548 e 1558. Chegou à, então, vila da Ribeira Grande em 1565, onde foi o 7º Vigário da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela. É considerado o grande cronista das Ilhas. A sua obra Saudades da Terra, é uma fonte imprescindível para o conhecimento dos tempos do povoamento dos Açores e, em especial, da ilha de S. Miguel.

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A DESCOBERTA DOS AÇORES

Quando eu andava na Escola Primária (1956/60), o meu livrinho de História (para a 4ª Classe do Ensino Primário Elementar) rezava assim: “Em 1431, Gonçalo Velho Cabral descobriu uma das ilhas dos Açores, a que deu o nome de Santa Maria. De facto, durante muito tempo, pensou-se que assim teria sido. Esta é a versão de Gaspar Frutuoso (cronista açoriano do séc. XVI) que, baseando-se na tradição oral e, talvez, na afirmação de João de Barros de que, em 1449, era dada autorização, ao Infante D. Henrique, para “... que pudesse mandar povoar as sete[1] ilhas dos Açores, as quais naquele tempo eram descobertas e nelas lançado algum gado por mandado do mesmo Infante por um Gonçalo Velho...”. Claro que não há aqui prova de que foi ele o descobridor. Apenas confirma o facto de Gonçalo Velho Cabral ter sido o primeiro capitão-donatário das ilhas de Santa Maria e de S. Miguel. Hoje, a maioria dos historiadores aceita que os Açores foram, de facto, descobertos por Diogo de Silves, marinheiro do Infante D. Henrique, no ano de 1427. Isto mesmo é afirmado num mapa do catalão Gabriel de Valsequa, de1439, onde o arquipélago surge representado com rigor. No entanto, parece consensual a ideia de que o arquipélago açoriano já era conhecido antes do séc. XV e que esta “redescoberta” se destinava a reclamar a sua posse para Portugal e proceder ao seu povoamento, uma vez que eram desertas. Na recente publicação da ÉSQUILO, “O Mistério Colombo Revelado”, de Manuel da Silva Rosa e Eric J. Steele, diz-se: [...] “...é provado pela descobertas das Ilhas dos Açores, antes de 1424.” (pág. 79); [...] “...As ‘Ilhas’ são os Açores, que se podem ver claramente a oeste de Lisboa neste mesmo mapa das Antilhas de 1424.” (...) Os Açores são habitualmente chamados pelos Portugueses «as ilhas» e antigamente também eram conhecidos como as ilhas terceiras, sendo esta a principal razão para a terra Ante-ilhas ter adquirido o seu nome.” Portanto, neste mapa de Zuane Pizzigano, de 1424, estava perfeitamente representado o arquipélago dos Açores e, ainda, a oeste dos Açores, terras a que Portugal chamava “Antilias” (também conhecidas por Antilias ou Antilhas), o que quer dizer “em frente às ilhas” dos Açores. Parece estar demonstrado que Portugal tinha conhecimento de território americano, antes de Colombo. Relativamente ao caso da Ilha de S. Miguel, Gaspar Frutuoso data o seu descobrimento de 1444, o que seria possível pela data apresentada por João de Barros, acima. No entanto, existe uma carta de D. Afonso V, datada 2 de Julho de 1439, que autoriza seu tio, o Infante D. Henrique, a mandar povoar as sete ilhas dos Açores. Portanto, pelo menos em 1439, já só faltava descobrir Flores e Corvo.Como vemos, não há grandes certezas em ralação às datas certas da descoberta das ilhas. Não podemos esquecer, no entanto, que o iniciador das viagens de descobrimento foi o Infante D. Henrique, governador da Ordem de Cristo que detinha muitos segredos dos antigos Templários. Podemos dizer que, desde início, a expansão marítima é sujeita a uma política de secretismo, e até de divulgação de dados falsos, para afastar e confundir os Castelhanos, nossos principais adversários. É possível que o nosso movimento expansionista esteja ligado a missões e projectos da própria Ordem de Cristo, herdeira da extinta Ordem dos Templários.

[1] As ilhas do grupo ocidental, Flores e Corvo, só seriam, oficialmenta, descobertas em 1452, por Diogo de Teive.

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"A ideia que temos de um paraíso na Terra é quase sempre uma ilha. Mesmo quem vive em alguma sonha-o sempre em outra, muito longe. E nos Açores há nove, porque, como muitas outras, estas ilhas são as mais belas do Mundo. Há quem pense que já se sabia da sua existência antes de aqui chegarem portugueses, no século XV, mas essa crença tem o valor histórico de uma fábula. Nas cartas náuticas desse tempo era costume desenhar ilhas imaginárias nas lonjuras desconhecidas dos mares, dando-lhes nomes de lendas e de mistérios. Faltando muitas informações à nossa curiosidade acerca do seu descobrimento, até a carta do maiorquino Gabriel de Valsequa, feita em 1439, e que vale como certidão de nascimento do arquipélago, sofreu um borrão de tinta que ocultou parte do nome do descobridor, o qual, antes disso, o também maiorquino Pasqual interpretara, já com muita dificuldade, como sendo Diego de Guullen. (Tê-lo-á influenciado a semelhança deste nome com o de Gullén de las Casas, que foi feito senhor das Canárias em 1437?...) No entanto, e apesar de várias outras hipóteses, é geralmente aceite a opinião do historiador Damião Peres de que o descobridor dos Açores terá sido Diogo de Silves, em 1427."

Texto de Daniel de Sá (que ouso publicar como enriquecimento do que foi dito)

sexta-feira, 25 de maio de 2007

AS ILHAS DE BRUMA

ILHAS DE BRUMA

Ainda sinto os pés no terreiro
Em que meus avós bailhavam o pezinho,
A bela aurora e a sapateia
É que nas veias corre-me basalto negro
E na lembrança vulcões e terramotos.
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[REFRÃO]
Por isso é que eu sou das ilhas de brumas
Onde as gaivotas vão beijar a terra
Por isso é que eu sou das ilhas de brumas
Onde as gaivotas vão beijar a terra.
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Se no falar, trago a dolência das ondas
O olhar é a doçura das lagoas
É que trago a ternura das hortênsias
No coração a ardência das caldeiras.
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[REFRÃO]
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Trago o roxo, a saudade, esta amargura
Só o vento ecoa mundos na lonjura
Mas trago o mar imenso no meu peito
E tanto verde a indicar-me a esperança.
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[REFRÃO]
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É que nas veias corre-me basalto negro
No coração a ardência das caldeiras
O mar imenso me enche a alma
Tenho verde, tanto verde, tanta esperança.
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Letra e música: Manuel Medeiros Ferreira
Intérpretes: Paulo Andrade, Susana Coelho,
José Ferreira, Luís Gil Bettencourt
Álbum: “7 ANOS DE MÚSICA

quinta-feira, 24 de maio de 2007

As ilhas dos Açores

Tive a sorte de, no ano de 1999, a vida me levar à Ilha de S. Miguel. Fiquei rendida à sua beleza.
Conheci, depois, mais quatro das nove ilhas do Arquipélago dos Açores. Todas diferentes... todas lindíssimas!
Este blogue é dedicado a essas ilhas. Porque não gostaria de ter morrido sem tê-las conhecido.
Aos açorianos e a todos que, um dia, forem aos Açores, peço uma única coisa:
POR FAVOR, RESPEITEM A NATUREZA PURA DAS ILHAS ENCANTADAS!!!