sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O Porto recebe os Açores

S. Miguel - Lagoa do Fogo

Porto - Rotunda da Boavista - Monumento à Guerra Peninsular

**********
Recebi, da “Associação para a Medicina, as Artes e as Ideias”, com sede na Rua do Campo Alegre, no Porto, um convite para o Jantar Comemorativo do seu 5º Aniversário.
Reparem na ementa! Deliciem-se e fiquem orgulhosos! Eu fiquei, acreditem.
Simplificando, reza assim:
************************************************
Um jantar especial...
A História
A viagem aos Açores, no passado mês de Maio, a propósito da Rota do Chá, torna o Jantar Comemorativo do 5º Aniversário da AMAI ainda mais especial. Para partilhar connosco o mistério do encantamento das Ilhas, os caprichos da Terra Vulcânica e a surpreendente e sofisticada gastronomia que daí resultam, desloca-se ao Porto a Chefe Guiomar Correia, do Restaurante “A Colmeia” (Hotel do Colégio), em Ponta Delgada. Com a ementa, que cuidadosamente preparou, chegam até nós especialidades açorianas únicas – muitas delas inexistentes no circuito comercial – e um toque mágico a Natal.
*
* *
A Ementa
Chicharro de S. Miguel Recheado, com Vinagreta de
Pimenta da Terra
Verdelho do Pico
*
Cornucópia de Frutos do Mar dos Açores
*
Lombo de Cherne com Ouriço-do-mar, em molho de pétalas
de açafroa e puré de inhame
*
Nacos Extra de Novilho dos Açores IGP, com papas de carolo no forno e abóbora assada em vinho verdelho do Pico
*
Troucha de Queijo velho de S. Miguel, com Banana e
Compota de Araçá
*
Mousse de Anona, Trufa de Ananás e Coulis de Uva da Serra
*
Bolo de Natal; Amendoins Cobertos
Licor de Tangerina
*
Os Vinhos
Vinhos da Herdade do Perdigão – Portugal cum laude
******************************************
Depois deste jantar, acho que vou participar num dos fins-de-semana temáticos da Associação: Um passeio de Burro, em Trás-os-Montes.
Imaginação e qualidade não lhes falta.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A Pianista que gostava de saber pintar

GABRIELA CANAVILHAS
“[...] Não posso deixar de desabafar outra problemática, que é sentir na sociedade em geral, nos públicos, nos parceiros, nos patrocinadores, um aligeiramento das fasquias.” “Cada vez mais nos é pedido para baixar o nível, para fazer música soft, música light, tocar com os grupos rock, com o fado. Acho lindamente fazer projectos com música ligeira, mas não pode ser esse o objectivo da orquestra. Queremos apresentar repertórios que exijam trabalho mental do público. A maior parte dos nossos patrocinadores são compradores de concertos. Fazem protocolos em que nos patrocinam com determinada verba e em troca têm “x” concertos, ou então patrocinam-nos para um concerto “x”, onde gostam de ter uma palavra. O que eu critico é o nível cultural que nos pedem, para nivelar por baixo em vez de sermos motores do desenvolvimento e obrigarmos o público a subir os seus níveis de exigência. Quando o público é confrontado com obras de muita qualidade, mesmo que sejam difíceis, rende-se. Ninguém pode não gostar daquilo que não conhece.”
“[...] porque não se pode só governar ao gosto do público, tem também de se estabelecer paradigmas para criar nova massa crítica. [...]
Acho que tenho um cargo político. Quando se interage com a sociedade está-se a fazer política. A política é muito aliciante desde que seja para melhorar a vida das pessoas, para genuinamente fazer a diferença.” [...] Quando for grande quero saber pintar.”
**********************************************************************
Esta é a mulher que, a 7 de Outubro passado, disse o que se transcreveu acima numa longa entrevista ao Notícias magazine. Chama-se GABRIELA CANAVILHAS, é pianista com 7 discos editados, venera Schubert e é açoriana. Deu uma nova vida à Orquestra Metropolitana de Lisboa que, em 2003, encontrou numa situação financeira “devastadora”. É presidente da Associação Música – Educação e Cultura que gere duas orquestras (a Metropolitana de Lisboa e a Orquestra Académica Metropolitana) e dois estabelecimentos de ensino: a nível superior, a Academia Nacional Superior de Orquestra; a níveis básico e secundário, o Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa. São fundadores da AMEC a Câmara Municipal de Lisboa, os ministérios da Cultura, da Educação e do Trabalho e da Solidariedade Social /Inatel e as Secretarias de Estado do Turismo e da Juventude e Desporto.
Se todos os que ocupam cargos públicos tivessem o grau de exigência desta artista açoriana, tudo no país estaria bem melhor. Grande mulher! E, ainda por cima, linda.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Novo Livro de Cristóvão de Aguiar

Cristóvão de Aguiar apresentará no sábado, 10 de Novembro de 2007, pelas 21 h, na Casa dos Açores do Norte (PORTO), a obra, editada pela Almedina,
*************************************************************
A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias
*************************************************************
Cristóvão de Aguiar nasceu no Pico da Pedra, concelho de Ribeira Grande, ilha de S. Miguel (Açores), em 1940. Frequentou a Escola Primária no Pico da Pedra, terminou o Curso Complementar no Liceu Nacional de Ponta Delgada (1960) e licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1968).
Fez a Guerra Colonial, na Guiné, entre 1965 e 1967.
Foi professor em Leiria (1969-72) e redactor da revista Vértice (1967-82). É, desde 1972, Leitor de Língua Inglesa na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, cidade onde reside. Como escritor recebeu o prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa (1978), para Raiz Comovida I, a Semente e a Seiva; o Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/CMP (1999), para Relação de Bordo I; o Prémio Nacional Miguel Torga/Cidade de Coimbra (2002), para Trasfega, casos e contos.
Foi agraciado, em Setembro de 2001, com o grau de comendador da Ordem Infante Dom Henrique, pelo Presidente da República.
********************
Para quem não conhece, aqui fica, o início de A Semente e a Seiva (da trilogia Raiz Comovida):

*************

O dia de cozedura de Vavó Luzia calhava sempre à sexta-feira; o chão da cozinha, revestido de tijolos vermelhos, que nos outros dias da semana se podia varrer com a língua, ficava, nesse dia, num verdadeiro esparrame: os molhos de lenha de ramada e de tremoceiros atados com um baraço de tabuga, emedados ao pé do talhão da água, os alguidares de barro da Vila em cima da amassaria, a massa levedando que era um louvar a Deus (ela nunca se esquecia de a benzer e encomendar no fim da amassadura, ao acrescentar-lhe o fermento) e Vavó, lenço pela testa e amarrado atrás, na nuca – a cova do ladrão -, numa dobadoira viva, as faces tintas do lume, ora tendendo o pão já lêvedo, ora botando lenha no forno para o esquentar. Todas as manhãs que Nosso Senhor botava ao mundo, no meu caminho para a escola do senhor professor Anacleto, o Caniço, por ser acrescentado em tamanho e escanzelado de carnes, era certo como a Igreja que tinha paragem obrigatória na tenda de tanoeiro de meu avô José dos Reis, à ilharga esquerda da casa, pedia-lhe a bênção, Vavô subença, Deus te abençoe, meu rico home, e, enquanto o diabo esfregava um olho e coçava o rabo pelado, dava eu meia volta pelas traseiras e ia direito à cozinha, onde seria milagre não se encontrar Vavó Luzia na lida das panelas, da lavação ou, se era dia azado, no cerimonial da cozedura do pão trigo e do pão de milho, dos bolos de rala e dos biscoitos feitos da rapadura dos alguidares, rijinhos, famosos para se migar na tigela de barro vidrado, da Lagoa, cheia de chá com leite.