quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A Poesia de Natália Correia

Natália Correia
[S. Miguel, 13.Set.1923 - Lisboa, 16.Mar.1993]

Queixa das almas jovens censuradas

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Dão-nos um lírio e um canivete

e uma alma para ir à escola

mais um letreiro que promete

raízes, hastes e corola

***

Dão-nos um mapa imaginário

que tem a forma de uma cidade

mais um relógio e um calendário

onde não vem a nossa idade

***

Dão-nos a honra de manequim

para dar corda à nossa ausência.

Dão-nos um prémio de ser assim

sem pecado e sem inocência

***

Dão-nos um barco e um chapéu

para tirarmos o retrato

Dão-nos bilhetes para o céu

levado à cena num teatro

***

Penteiam-nos os crânios ermos

com as cabeleiras dos avós

para jamais nos parecermos

connosco quando estamos sós

***

Dão-nos um bolo que é a história

da nossa historia sem enredo

e não nos soa na memória

outra palavra para o medo

***

Temos fantasmas tão educados

que adormecemos no seu ombro

somos vazios despovoados

de personagens de assombro

***

Dão-nos a capa do evangelho

e um pacote de tabaco

dão-nos um pente e um espelho

pra pentearmos um macaco

***

Dão-nos um cravo preso à cabeça

e uma cabeça presa à cintura

para que o corpo não pareça

a forma da alma que o procura

***

Dão-nos um esquife feito de ferro

com embutidos de diamante

para organizar já o enterro

do nosso corpo mais adiante

***

Dão-nos um nome e um jornal

um avião e um violino

mas não nos dão o animal

que espeta os cornos no destino

***

Dão-nos marujos de papelão

com carimbo no passaporte

por isso a nossa dimensão

não é a vida, nem é a morte

(Poesia musicada e cantada, magistralmente, por José Mário Branco)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Igreja Matriz de Vila Franca do Campo

Dedicada a São Miguel Arcanjo, é o mais antigo de todos os edifícios, conservados até aos nossos dias, dos Açores.
É referida no testamento do Infante D. Henrique, datado de 13 de Outubro de 1460.
Ficou em parte soterrada, aquando do terramoto de 1522. Mas, como nos conta Gaspar Frutuoso, logo os povos a levantaram, aproveitando os materiais e contando com o auxílio do rei D. João III.
Em 1585, a Ordem de Cristo autoriza o douramento da capela-mor e, em1589, o Cardeal D. Henrique permite o lançamento de uma finta(*) para o lajeamento da igreja e do adro.
No séc. XVII, a igreja tinha um realejo, que foi, mais tarde, substituído por um órgão.
Foi aumentada em altura, no séc. XVIII (1747), por ordem do Bispo D. Frei Valério do Sacramento, que mandou também reparar a torre, para além doutras transformações.
No séc. XIX, chamavam à torre monumento fúnebre, por ser toda de basalto negro e, por isso, como noticia o Açoriano Oriental, em 1865 reclamam para ela uma caiação.
Com todas as obras que sofreu, ao longo dos tempos, foi muito descaracterizada. Por isso, em 1948, foi alvo de uma profunda intervenção. Foi, então, retirado o reboco da frontaria e tapadas duas grandes janelas, abertas no séc. XVIII.

A porta axial é em forma de arco conopial terminado por um cogulho de cariz vegetalista e tem quatro colunelos por lado, que se continuam nas arquivoltas. Os capitéis são se anel com folhagem e os ábacos muito desenvolvidos. As bases são complexas, de tipo arquitectural flamejante.

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(*) Tributo municipal extraordinário, em que era imposta uma quantia a cada contribuinte, de acordo com a sua fortuna e a soma necessária para uma determinada despesa. As fintas eram lançadas, principalmente, para obter fundos destinados a obras dentro do próprio concelho.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Eu queria...

Casinha Branca
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Eu tenho andado tão sozinha ultimamente
Que nem vejo em minha frente
Nada que me dê prazer
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tantos sonhos perecer
***
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal, uma janela
Para ver o sol nascer
***
Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizade
Vou seguindo a multidão
Mas me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seus mistérios
Seu sofrer, sua ilusão
***
Eu queria ter na vida...
Composição: Gilson/Joran
Interpretação: Maria Bethânia