quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ainda e sempre ANTERO

Finalmente, para os Estados Unidos, tanto tempo passado sobre aquela aventurosa viagem no Carolina, já nos seus quarenta e quatro anos, terá Antero verdadeiramente pensado em ir viver. Desejo corrente habitual em tantos açorianos, quantas vezes tornado realidade, ou apenas um projecto idealizado sem qualquer hipótese prática de concretização?

O certo é que em Fevereiro de 1886, respondendo a João Machado de Faria e Maia que então projectava fixar-se na Califórnia, escrevia-lhe: “Se se realizarem os teus planos californianos, talvez um dia vá lá juntar-me contigo, buscando mais largos horizontes, se não para mim, para aquelas duas crianças que fiz minhas.”

Mas cinco anos mais tarde, os “largos horizontes” tiveram outro nome: Ilha de São Miguel, Ponta Delgada.

“A cada ser o seu destino”, escreveu aos vinte e dois anos em “O Sentimento da Imortalidade”, “a cada destino o seu cumprimento. Aqui, ali, agora ou logo, com esta ou aquela forma, que importa? Se esta hora, chamada vida, nos mentiu, outra virá, por certo, e a mão de luz e bem nos conduzirá no nosso verdadeiro caminho.”
Para ele o seu verdadeiro caminho é sobretudo a sua obra, que, nunca será demais acentuar, tem passado para um plano inferior, enredada em teorias frequentemente precipitadas e quantas vezes incoerentes. E é porque a obra existe (ainda que com vários títulos infelizmente de há muito esgotados), que Antero de Quental permanece de pedra e cal na cultura portuguesa resistindo a tantos absurdos. Aliás, a não ser assim, ter-se-ia já sumido no luso nevoeiro se apenas a sua pessoa estivesse em causa, embora não esquecendo o exemplo de dignidade moral, cívica e intelectual que o elevou a símbolo de uma das nossas mais brilhantes gerações – a Geração de 70.
Ana Maria Almeida Martins, Antero de Quental e a Viagem à América