sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Porque tudo na vida é política...

Carta Aberta ao Presidente Carlos César
Vivi alguns anos em S. Miguel e apaixonei-me, sem remédio pelas “Ilhas”. Os Açores são, para mim, uma espécie de Paraíso que eu gostaria de ver como símbolo do que é bom e belo no Planeta. Infelizmente, não restam muitos lugares assim.
Os Açorianos, por vezes, pensam que vivem mal, que precisam de se tornar iguais aos outros para serem felizes. Como se enganam! A qualidade da vida que têm é um bem que muitos gostariam de ter. É evidente que há coisas a melhorar e que todas as pessoas têm direito aos bens essenciais e a viver com dignidade.
As notícias que me têm chegado nos últimos dias, contudo, fazem-me temer o futuro das minhas “Ilhas Encantadas”.
Transcrevo apenas excertos de artigos de dois jornais. Quero esclarecer que, nomeadamente no caso do artigo (completo) do Tomaz Dentinho, não me liga ao seu autor qualquer afinidade política. Pelo contrário, faz afirmações e tem opiniões com as quais estou em absoluto desacordo. No entanto, tenho de reconhecer que tem razão nos dois ou três aspectos que cito.
Dirijo-me ao Senhor Presidente porque, apesar de me situar à esquerda do Partido a que pertence, reconheço no senhor um homem de bem, digno e sério. Sobretudo, acredito que quer o melhor para a sua região. No entanto, nem sempre o melhor é o dinheiro (“Ah! Mònim dum corisco!) ou a subserviência.
Por favor, proteja as nossas ilhas da cobiça e dos interesses estrangeiros e da incompetência nacional! Não queira ficar na História por colaborar em verdadeiros atentados, esses sim, contra a Humanidade.
Terá, com certeza, muita gente a apoiá-lo na luta para travar os disparates do Governo Central e a ganância prepotente dos que se julgam senhores do Mundo.
Quero dizer-lhe que uma das coisas que, ainda hoje, mais me magoa é ver o nome dos Açores associado à Invasão do Iraque.
As ilhas dos Açores transmitem harmonia, paz, serenidade, bem-estar. É esse o papel de que a Natureza as incumbiu: o de transmitir aos Homens a esperança de que ainda é possível ser feliz na Terra.
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Face à possibilidade de ser criada nos Açores uma base de treino para os novos caças norte-americanos e para o sistema de armamento de mísseis hipersónicos, “a região está disponível para aceitar que a Base das Lajes tenha novas funcionalidades de futuro, no âmbito da relação bilateral que já existe entre os EUA e Portugal”. Quem o diz ao Destak é o representante do Governo Regional na Comissão Bilateral Permanente do Acordo das Lajes.
André Bradfort acrescenta, no entanto, que “esta hipótese terá de ser avaliada na presença de um projecto concreto” e que ainda é muito cedo para se falar disso. […]
As conversações entre os dois países foram ontem confirmadas pela embaixada dos EUA em Lisboa. Em declarações à TSF, coube ao conselheiro para a imprensa e cultura da Embaixada dos EUA, Wesley Carrington, garantir que “tem havido conversações”, mas não “negociações” sobre esta ideia, que também tem sido explorada com outros parceiros da NATO. […]
No entanto, o Ministério da Defesa, contactado pelo Destak, negou a existência de “conversações directas ou indirectas” sobre a criação de uma base de treinos militares dos EUA nos Açores. Este ministério sublinha ainda que, até ao momento, não chegou ao gabinete qualquer pedido sobre esta matéria.
Patrícia Susano Ferreira (jornal Destak)
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As notícias são recentes e angustiantes: a condescendência ao Tratado Europeu que transfere para a competência comunitária a gestão exclusiva da biodiversidade marinha; o último acordo Luso-espanhol que permite a invasão de atuneiros espanhóis nos mares dos Açores; e, para finalizar, a perspectiva de criar nos Açores uma base americana para testes de armas com óbvios impactos nos recursos marinhos, na potencialidade logística e na atractividade turística. […]
Mas se o mar está a ser alienado para os Europeus, a posição estratégica e a potencialidade turística está a ser dada aos americanos. Venham os testes de armas para os mares dos Açores para que o ruído dos jactos americanos perturbe os passeios pedestres dos turistas europeus e se demonstre que a biodiversidade marinha, vendida aos europeus, pode ser perturbada pelos americanos em retirada do Médio Oriente. Os estrategas nacionais querem assim balancear as forças de um lado e de outro do Atlântico. Ficam contentinhos com um passeio a Washington e com alguma sucata que nos chegue do desastre iraquiano. Porventura o que nos resta é sair da Europa para salvar Portugal.
Tomaz Dentinho (jornal A União)

5 comentários:

helder disse...

Concordo com tudo o que diz. É verdade que as Ilhas Açoreanas, de facto ainda nos vão dando a o bem estar a e a calma que refere. Temo contudo que não seja por muito tempo e mais cedo que aquilo que julgam a Ilha de São Miguel não será mais que Ibiza ou Palma de Maiorca. Nesssa altura, resta-nos a procura das outras Ilhas ( também muito bonitas) onde,por ora ainda se vai encontrando aquilo que São Miguel vai perdendo.
Helder

Elisabete disse...

Não me diga uma coisa dessas que me parte o coração. S. Miguel é uma ilha mágica que não pode tornar-se num lugar igual a tantos outros.
Quero comunicar-lhe que enviei cópias desta carta para o Presidente do Governo Regional (no blogue poderia não chegar ao seu conhecimento), ao Presidente da República, ao Primeiro-Ministro, à Assembleia da República e a 4 Ministros (Pescas, Economia, Defesa e Negócios Estrangeiros). Se for preciso, viro "ciclone" para neutralizar o "anticiclone" dos que não sabem dar valor ao que têm. S. Miguel e as outras ilhas dos Açores são o paraíso na Terra. Ponto final!!!
Beijinhos
Beijinhos

Ibel disse...

Elisabete
Voltei a deambular pelos seus blogues e entrei no Luar de Janeiro.Maravilhoso! Fantástico! Como os outros.
Então pensei cá para os meus amigos botões(já que não tinha outros à mão),"mas que mulher esta tão atenta a tudo, tão comprometida com a cultura e com o e com a beleza que é alimento e subbstância!".
Quis deixar lá um comentário, mas não consegui entrar(esta minha agilidade para o pc!), mas comovi-me com o texto de Fernanda Botelho sobre a velhice em compasso de espera nocturno , em pleno dia,em banco de jardim.
Viajarei, sempre que possível,pelas ruas e becos do seu blogue onde é difícil refrear o passo.
Ser uma aposentada ainda jovem e aproveitar para ser voz interventiva merece aplauso e de pé.
Beijinho

Elisabete disse...

Faço apenas uma pequena parte do meu dever de cidadã.
A "Ibel" tem uma grande alma.
Beijinhos

Ibel disse...

Elisabete

Fiz um longo comentário na "última" do Luar De Janeiro, mas ,quando tentei submetê-lo, foi um tal baralhada,que ele foi-se à vida.
Amanhã vou ver se consigo de novo.
Sabe que o seu "olhinho" é igual ao do seu pai?
Ibel