terça-feira, 14 de abril de 2009

Será isto, João?

A fotografia das glicínias (penso que há quem lhes chame lilases) fez vir ao de cima as recordações do João Coelho:
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No Largo 2 de Março, junto à minha velha Rua do Saco (oficialmente Rua Coronel Miranda), em Ponta Delgada, havia (há) um jardim rodeando uma mansão que se tornou mais tarde a Residencial Palmeira. Estas flores também lá estavam - não sei se lhe chamavam glicínias - e tinham uma particularidade: só perfumavam o ar à noite..Era muito agradável, nos serões de Primavera, sair de casa para ir até ao café Gil e sentir aquela fragrância, num como que prenúncio de uma noite prazenteira. E às vezes eram..
Casa das Palmeiras
Livraria Gil

Era a esta casa que te referias? Não tenho a certeza. Penso, no entanto, que o Largo 2 de Março é onde fica a Presidência do Governo e, portanto, a Casa das Palmeiras fica na esquina do Largo com a Rua do Diário dos Açores. Será?

9 comentários:

joão coelho disse...

É exactamente esta casa, as tais glicínias penduravam-se na grade do jardim e libertavam o seu perfume. Vejo que está degradada e que tem uma tabuleta para venda..é pena. Mostras-me também a rua Diário dos Açores, nós conhecíamo-la por rua da Cruz,lá está a Livraria Gil,um pouco mais abaixo é a Tabacaria Açoriana, em frente estava o Café do mesmo nome (Gil) que apareceu muito antes da livraria..Estas fotos fixam bocados de um tempo em que o meu mundo era feito destes sitíos, mais alguns outros - mas aqui, nesta zona da cidade, estava o meu porto de abrigo.
Obrigado, Elisabete,sinceramente.

PS - Vejo que há inovações, com inclusão de fotos. A ver se arranjo uma onde não esteja muito mal. Olha o ar de Mar de Bem, tem mesmo pinta de artista, faz lembrar a Côte d'Azur..

Mar de Bem disse...

...e sou artista, sem sombra de dúvida, João! 30 anos arquitecta (parece que sou a 1ª arquitecta açoriana) e não sei quantos mais como pintora, está claro que vivo melhor no mundo da lua, do que neste. Pitafes!!!

Elisabete disse...

Não tens que agradecer, João. Gosto de procurar na memória, e nas fotografias que tiro, os locais de que falas. Assim, fico a conhecer melhor a história da ilha.
Desconhecia a existência desse Café Gil e cheguei a pensar que se tratava da Tabacaria.
Como vês, vou aprendendo...
Fico à espera dessa foto. Por acaso não tens também um blogue?
A Mar de Bem é uma força da Natureza. Gosto!

Ibel disse...

Estes açorianos não param de me surpreender.A Elisabete é quase aóriana, o João e a Margarida são-no de gema, não é?
Ai as glicínias do meu tempo de bibe e cabelinho encaracolado na escadaria de pedra do Colégio de santa Maria.Como fui feliz!
"RAIVA DE NÃO TER TRAZIDO O PASSADO ROUBADO NA ALGIBEIRO! COMO DIZIA O ÁLVARO DE CAMPOS.

Elisabete disse...

Se calhar trouxeste-o, Ibel, de tal modo está vivo dentro de ti.

joão coelho disse...

Tenho um blogue pensado há anos, tenho nome e tudo - "Um tiro na alma" - mas estou há espera da reforma efectiva, já que depois da aposentação me meti num voluntariado..
É pena, Elisabete, que não tenhas conhecido o Café Gil que trouxe,nos anos 60, um espaço de modernidade à cidade de P.Delgada; existiam bons cafés - o Nacional e o Pepe, p.ex. - mas o Gil tinha um toque de cosmopolitismo inovador. O proprietário era um homem de bom gosto, nascido para servir e tratar bem as pessoas, um peixe na água no sector da restauração. Rápidamente se tornou o espaço de arribada dos forasteiros, dos dois sexos; militares, enfermeiras, professores, funcionários das finanças, estudantes de outras ilhas, etc. E nós íamos lá para conhecer e dar a conhecer..Era um processo curioso, primeiro entrávamos de conversa com o sector masculino e depois, vinham as moças que, entretanto, passavam pelo nosso crivo - ou seja, as mais desinteressantes seguiam para os recém-chegados, as tidas como mais atraentes eram disputadas pelos galãs locais..Hoje, não será politicamente correcto enquadrar assim as coisas mas a verdade é que era assim que sucedia - e algumas "jarras" e "jarretas" da terra acabaram por conseguir casório por aquela forma..
No Café Gil havia um pouco de tudo - bebidas de todo o tipo (foi lá que bebi, pela 1ª e última vez absinto) marisco (cheguei a "desviar" uma lagosta tranquilamente pousada numa bandeja, depois comida numa petiscada de meninas e meninos)fruta do Continente, cosméticos (também aviava algumas encomendas de moças amigas..ai João tá ali um baton com uma cor de morrer e fazer morrer..)nozes e castanhas também idas da capital. Recordo até uma noite de Inverno, temporal "à la Açores", nós numa mesa, à entrada uma bela cesta de vime cheinha de castanha acabada de chegar, daquelas grandes, prenhes, e..lá se vai a luz..Há velas,não há velas, tudo às escuras um bom pedaço, volta a iluminação..e tinha o cesto ficado a metade..
Mais tarde chegou uma "juke box" e o Gil conseguia lá ter os últimos sucessos internacionais, connosco a meter uma moedinha para que as girls avaliassem o nosso bom gosto...lá por sermos micaelenses não eramos saloios..
Já percebi que há por aqui olhos lindos, mas sempre digo que foi no Gil que encontrei os mais lindos dos Açores, no rosto de uma menina da Terceira,(desculpa lá, Mar de Bem..)tão lindos que era conhecida pela "bébé"..E também foi no Gil que soube, casualmente, que havia uma possibilidade de trabalho - que consegui - que se transformou na minha profissão por 33 anos. E ainda foi ali que soube que o meu pai estava a braços com o seu primeiro enfarte..
Em dada altura, o Gil começou a receber jornais de Lisboa, o "República" e o "Diário de Lisboa", fiquei assinante ( e da revista "Triunfo", de Espanha, publicação progressista que furava a ditadura franquista, mal sabia que em Novembro de 75 estaria em Madrid por causa da morte do caudilho fascista..) era uma excitação quando chegavam os jornais, um rolo com as edições de uma semana, os editoriais do Raul Rego, as crónicas do Mário Mesquita, Jaime Gama (ambos micaelenses) e do Álvaro Guerra, o suplemento "A Mosca", no "DL", dirigido por Luis de Sttau Monteiro, os escritos do Mário Castrim e do Pedro Alvim (grande poeta) - enfim, eram letras da democracia que o avião trazia..E o ar cúmplice do Gil a dizer-me "..chegaram jornais,Manuel João.."
O Gil abriu depois a livraria, também com o seu nome e que tu aqui mostras, vendeu o café a um funcionário, mas já não apanhei esse tempo, com pena minha. Mas é interessante verificar como um homem que começou como empregado de café se tornou num profissional da venda de livros - e sabendo o que colocava à disposição dos clientes, como constatei anos mais tarde. Não sei se ele ainda é vivo, mas merece ser lembrado como um homem a quem a minha geração deve muito.

Saudações atlânticas

Ibel disse...

João,

Anda lá com o blog para a frente! Gosto do nome e sempre do que contas.Prometo ser leitora assídua.
Eu já começo a sentir uma costela açoriana...
Abraço

Elisabete disse...

Realmente é uma pena não ter conhecido o Café Gil. Cheguei tarde a S. Miguel...
Na Ribeira Grande, eu e os meus amigos frequentávamos o Café Central. Era o nosso ponto de encontro, diariamente. Fiquei desolada quando fechou. Agora, aquele espaço e os momentos que lá passámos já só existem na nossa memória. Algo se perde, não é?
Fico à espera do "Um tiro na alma". Tenho a certeza que vai ser um óptimo sítio para visitar.

joão coelho disse...

No meu tempo eram dois os cafés mais frequentados na Ribeira Grande: o Central, que tu referes e que não sabia ter fechado, e o Pascoal, um pouquinho mais à frente, depois de passar o Teatro Ribeiragrandense (já desaparecido há uns anos). O dono deste último, o sr.Pascoal, tinha 7 filhas, todas bonitas - uma delas era minha vizinha na Rua do Saco; então, e dadas as circunstâncias, ao pai chamavam-lhe o "blica de prata" (não "traduzas", para não parecer mal aos camaradas terráqueos frequentadores deste teu castelo). O desaparecimento de cafés é sempre uma pena, na baixa de Lisboa foi uma razia, no Porto aguentaram-se mais tempo, mas julgo que também já se verificaram muitos encerramentos. São lugares de memórias e até de afectos que se perdem..
A questão do blogue tem também a ver com a preguiça e com a necessidade de apoio técnico para arrancar..mas lá chegarei.
Por enquanto vou frequentando estes castelos altaneiros..está-se bem.
Abraços, com saudações atlânticas.

J.Coelho