segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ANTHERO: Sempre!

Finalmente a RTP 2 passou, ontem à noite, o filme de José Medeiros, ANTHERO - O Palácio da Ventura. Só o soube porque um amigo, residente em S. Miguel, me alertou. Quando liguei o televisor já tinha começado. Quando chegou ao fim, quase duas horas depois, só queria era continuar pela noite dentro: pela excelência do trabalho, porque me comovi, porque senti o meu amor crescer, se isso ainda é possível, pelo poeta.
Agora fico à espera que volte a ser transmitido e que o DVD seja colocado no mercado.
O Palácio da Ventura
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Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!
*
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
*
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!
*
Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Antero de Quental
Na minha rápida passagem por S. Miguel, no final de Agosto, reservei uma manhã para procurar o seu túmulo no Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada. Não foi difícil: encontrava-se logo à entrada, num jazigo modesto em que está também sepultado o seu pai.
Um encontro espiritual e um misto de saudade, melancolia e beleza que jamais esquecerei...

11 comentários:

Ibel disse...

Elisabete, tu és uma mulher com tanta sensibilidade.
Também não vi o programa e lamento.Gostaria tanto de ter visto!
Então não é que ontem passei a manhã a reforçar conhecimentos sobre a geração de Antero e de Pessoa para poder compreender melhor o desgosto que a vida despertou nestes homens.
De formas diferentes, os artistas supremos exprimem o seu desânimo pelo peso encarcerador da sociedade que os destrói e nos degrada.
deixo aqui a "Abdicação"de Pessoa. Pode ser que o Antero se alivie de alguma solidão que ainda possa sentir.

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.


Fernando Pessoa, 1913

Beijinho.

Nota-Não consigo entrar no Luar de janeiro.Fico com o computador bloqueado.Tentarei na escola num outro dia.

Elisabete disse...

Sensíveis são o Antero e o Pessoa e foi por isso que a vida os magoou tanto.
Esta "Abdicação" diz tudo, não é?
Não sei o que se passa com o "Luar". Parece-me que está demasiado pesado. Vou ter que tentar resolver o problema.
Beijinho

Unknown disse...

Olá Elisabete!

Eu vi o programa.Foi FABULOSO!
Ontem,através de Antero,percebi mais e melhor a ALMA do ilhéu.Se percebi...!
Beijo
Eduarda

Mar de Bem disse...

Minha gente:

Fui à ante-estreia deste filme, na Casa dos Açores em Lisboa, com a presença do Zeca, cada vez mais longe dos simples mortais.

Este "Anthero" é sem dúvida o olhar pousado e pausado do Zeca, que embalou bem no coração o próprio Anthero. Quem, sendo ilhéu, não o entende?
Toda a melancolia que embrulha o engenho e arte, só é inteiramente entendível por quem por vezes não enxerga o Àmanhã, porque o Hoje é tão dramático, que apenas apetece hibernar...

O Hoje é sempre o mais difícil. Eu não verto lágrimas pelo Àmanhã, nem pelo Ontem. Eu verto lágrimas por um Hoje que não domino, que me perturba, que me faz sofrer, porque a minha razão foi sufocada pela emoção.
Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?

É assim, simplesmente assim, porque não há estradas que nos levem para longe de nós mesmos. Nós somos os próprios carrascos. Tão miseráveis que nós somos.

Haha, e gostamos de nos sentir tão vítimas da própria Vida!?!?

"Va de retro Satanás"...

Era o que faltava! A tendência é essa, mas é preciso enxotá-la!

Vítima de si próprio?...talvez um bocadinho...
Uma ova!!! Nunca!!!

Mar de Bem disse...

...isto fui eu a exorcizar a minha tendência melancólica...

Elisabete disse...

Viva, Eduarda! É bom tê-la por cá. Também achei fabuloso.

Comentários como terapia, Mar de Bem? É assim mesmo! É preciso espantar a melancolia, apesar de, por vezes, eu até gostar...
Será por isso que gosto tanto das "ilhas de bruma"?
Essa do Zeca Medeiros estar cada vez mais longe dos simples mortais, é um facto. Ele é um artista completo e singular.

Beijinhos para as duas

Ibel disse...

Que bom ver as "manas" bem perto, todas reunidas.

Mar de Bem, Tu és impagável!!!!
Eduarda, tu estás boa como milho, nina! Que bem te fizeram as férias...
Amanhã recebo a Elisabete cá em casa, acompanhada da minha melhor amiga da infância, sua prima e que já não vejo há mais de trinta anos.
"Isto" das ilhas é fabuloso.Encantadas, vê-se logo, claro.


Beijos para todas com muitos inhos!!!!

Mar de Bem disse...

LIA, estás de todo!!!

Dá beijos à Elisabete.
Aliás, beijos a todas (que chatice, não há aqui homem algum!!!)

Mar-ia disse...

aqui vai mais uma...mulher.
Tive pena de não ter visto o filme. Que pena!
e boa viagem de reconhecimento para a Elisabete.
E um abraço pelo carinho.

Elisabete disse...

Tantas manas!!!
O que é feito do nosso João Coelho? Alguém sabe?
Já temos saudades dos seus comentários. Não é verdade?

Mar de Bem disse...

Tens razão, ele faz falta!