quinta-feira, 13 de março de 2008

Lendas dos Açores 2

Com os meus agradecimentos
a Daniel de Sá
Piratas nos Anjos
Os principais atractivos da zona de Santana, incluindo os Anjos, eram a facilidade de acesso ao mar e a ribeira onde corre água durante todo o ano, e que recebeu aquele nome porque os terrenos por onde passa pertenciam a Gonçalo Velho. Todos os mapas actuais a trazem como ribeira de Santana, mas lá ela tem três nomes diferentes deste, sendo na parte final curiosamente chamada ribeira do Rei.
No entanto, por ali o mar tanto abre as portas da terra a quem vem por bem como a quem chega por mal. E os piratas e corsários várias vezes se aproveitaram dessa franqueza, ao ponto de, na sacristia da igrejinha dos Anjos, talvez a primeira que houve nos Açores, ter sido guardado ao longo dos séculos um chicote com que eles atormentaram alguns infelizes habitantes do lugar. E, para memória das gentes, foi feita a seguinte inscrição:

Na noite do primeiro para o segundo dia de Setembro de 1675, deram os mouros um assalto neste sítio desta Ermida a descuido das guardas, entraram pelo porto cativaram onze pessoas, entre mulheres e meninos e com este chicote as espancaram o qual se pôs aqui para memória do sucesso para que esteja pregando que se Deus logo levantou o castigo foi talvez por não envolver mais inocentes; todavia deixou ficar em terra o açoute com que castigou. Nesta Ermida não tocaram, passando de todo por junto dela; como também no ano de 1616 saquearam toda a ilha é tradição que a não viram vendo-os a todos quem dentro estava.”

Desse episódio de pirataria ficou a lenda de um canavial que teria surgido de súbito, não permitindo aos mouros verem a ermida. Que, segundo outra lenda, houve quem quisesse mudar para o sítio que passou a chamar-se Cruz dos Anjos. Todos os materiais que, durante o dia, eram levados para ali, à noite voltavam para o lugar onde a pequena igreja haveria de ficar para sempre. E terá ficado também a palavra “bei”, como exclamação de grande espanto, com frequência acompanhada da invocação de Santa Bárbara, protectora contra raios e calamidades. Seria com esse grito que muitas pessoas reagiam ao rebate que anunciava piratas na costa, pois “bei” era título de chefe na Tunísia. Curiosamente, em iguais circunstâncias a mesma palavra se diz na Graciosa.

Daniel de Sá, "Santa Maria, a ilha-mãe"

Estátua de Cristóvão Colombo
**************************
Na Capela dos Anjos, provavavelmente o mais antigo templo dos Açores, rezou a tripulação de Colombo, no regresso da viagem de descobrimento da América (Fevereiro de 1493).
As fotografias fazem parte da obra de Daniel de Sá, citada acima, que recomendo vivamente, pela sua qualidade literária, gráfica e fotográfica.
Se quer saber mais, pode ver, neste blogue, os posts: DANIEL DE SÁ imparável [23.Set.2007] e Santa Maria, a ilha-mãe [02.Out.2007].