quarta-feira, 20 de junho de 2007

DANIEL DE SÁ: um escritor micaelense

A quantidade de trabalho requerida para criar e manter os níveis de progresso e economia do hemisfério ‘rico’ provocou o desequilíbrio familiar, principalmente por quase se haver perdido a presença da mãe como figura tutelar e permanente, sem que se lhe tenha encontrado alternativa satisfatória. Aos escravos com dono sucedeu a era dos ‘escravos’ com patrão (e dos patrões ‘escravos’ de si mesmos), peças dum mecanismo que subverte com frequência os ritmos sociais, familiares e biológicos normais."
Daniel de Sá, "A Criação do Tempo, do Bem e do Mal"

terça-feira, 19 de junho de 2007

Caldeira Velha, Ribeira Grande, S. Miguel, Açores

"Percebi que ninguém chega aos Açores mais do que uma vez. O primeiro passo nas ilhas é definitivo e irrevogável, marca-nos para o resto da vida o corpo em viagem."
Maria Orrico, A Terra de Lídia

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Emigração versus Amor

DOMINGOS REBELO, Emigrantes
MARÉ E NATIVIDADE
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O meu amor é como o mar revolto,
sendo tu o porto
em que me abrigo
após cada tormenta
nessa lida, lenta,
que começa ao despertar.
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Às vezes, não te vou mentir,
eu sinto a febre de partir
mas ao pensar em ti,
ao ver a luz do teu olhar,
não sei porquê acabo por ficar.
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O meu amor é um abandono
tão suave como a luz do Outono,
mistura de tristeza e de alegria
tu és, para mim,
assim como o romper
dum novo dia.
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Às vezes, só por um instante,
pressinto-te distante,
mas logo um beijo doce,
um breve abraço, dois segredos,
afastam para longe estes meus medos.
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Letra e Música: Aníbal Raposo
Intérpretes: Aníbal Raposo e Susana Coelho
Álbum: "7 Anos de Música"

segunda-feira, 11 de junho de 2007

IDÍLIO (Antero de Quental)

IDÍLIO
.....
Quando nós vamos ambos de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas.
.....
Ou, vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas,
Ao longe, no horizonte, amontoadas.
.....
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua:
Sinto tremer-te a mão, e empalideces...
.....
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
Antero de Quental (18 de Abril de 1842 a 11 de Setembro de 1891)
que nasceu e morreu em Ponta Delgada
Portas da Cidade (Ponta Delgada/S. Miguel/Açores)

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Atlântida: mito ou premonição?

A LENDA DA ATLÂNTIDA
"Conta-se que houve em tempos um continente imenso no meio do oceano Atlântico chamado Atlântida. Era um lugar magnífico: tinha belíssimas paisagens, clima suave, grandes bosques, árvores gigantescas, planícies muito férteis, que às vezes até davam duas ou mais colheitas por ano, e animais mansos, cheios de saúde e força. Os seus habitantes eram os Atlantes, que tinham uma enorme civilização, mesmo quase perfeita e muito rica: os palácios e templos eram todos cobertos com ouro e outros metais preciosos como o marfim, a prata e o estanho. Havia jardins, ginásios, estádios... todos eles ricamente decorados, e ainda portos de grandes dimensões e muito concorridos.
As suas jóias eram feitas com um metal mais valioso que o ouro e que só eles conheciam - o oricalco. Houve uma época em que o rei da Atlântida dominou várias ilhas em redor, uma boa parte da Europa e parte do Norte de África. Só não conquistou mais porque foi derrotado pelos gregos de Atenas.
Os deuses, vendo tanta riqueza e beleza, ficaram cheios de inveja e, por isso, desencadearam um terramoto tão violento que afundou o continente numa só noite. Mas parecia que esta terra era mesmo mágica, pois ela não se afundou por completo: os cumes das montanhas mais altas ficaram à tona da água formando nove ilhas, tão belas quanto a terra submersa - o arquipélago dos Açores.
Alguns Atlantes sobreviveram à catástrofe fugindo a tempo e foram para todas as direcções, deixando descendentes pelos quatro cantos do mundo. São todos muito belos e inteligentes e, embora ignorem a sua origem, sentem um desejo inexplicável de voltar à sua pátria.
Há quem diga que antes da Atlântida ir ao fundo, tinham descoberto o segredo da juventude eterna, mas depois do cataclismo, os que sobreviveram esqueceram-se ou não o sabiam, e esse conhecimento ficou lá bem no fundo do mar."
Ângela Furtado-Brum, Açores, Lendas e Outras Histórias

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Todos ouvimos já falar do continente maravilhoso que, segundo Platão, ficava para lá das Colunas de Hércules (estreito de Gibraltar) e que, um dia, se afundou e desapareceu, engolido pelo Oceano Atlântico.

Claro, que os cientistas afirmam que esse continente nunca existiu. Mas também há quem, inclusive, se lembre de ter vivido na Atlântida, numa vida anterior.

Não vou afirmar o que não sei, mas que me apraz pensar que as ilhas dos Açores sejam os pontos mais altos dessas terras submersas, é um facto.

Uma lenda é um mistério, é do reino do imaginário e dá um pouco de cor à vida cinzenta do quotidiano. Para mim, as "ilhas de bruma", têm esse encanto. Aparecem e desaparecem, envolvem-se no nevoeiro e fazem-nos sentir que estamos perto do divino.

Um dia, vou contar o que sinto, sobretudo em relação a S. Miguel, o modo como viver na Ilha me transformou numa pessoa diferente e é, para mim, o lugar que conheço que mais se aproxima da ideia de paraíso.

Talvez a Atlântida não tivesse, de facto, existido e, por isso, não se deu aquele horrível cataclismo. O meu medo é que ele seja "coisa do futuro". O aquecimento global do planeta Terra não pára; o degelo está a acontecer. Estará Portugal, no seu todo, condenado a voltar às profundezas do mar? É isso que me assusta. Se passado, presente e futuro coexistem, em diferentes dimensões... Quem sabe quando as coisas acontecem?

terça-feira, 5 de junho de 2007

sábado, 2 de junho de 2007

TEMA PARA MARGARIDA

Ai! Quem me dera partir na canoa da esperança

Ir ancorar noutras praias, noutros varadouros

Ai! Quem me dera voltar a gozar os tesouros

Da felicidade que eu tinha quando era criança.

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Ai! Quem me dera ser garça e voar no Canal

Só entre o Pico e o Faial me quedar dividida

Ai! Quem me dera mão firme no leme da vida

Ai! Este amor que me mirra, me mata e faz mal.

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Ai! Quem me dera, de novo, as certezas e os medos

Ai! Quem me dera ter credos e não ser indiferente

Ai! O amor passa ao lado da vida da gente

Ai! Já o tempo se escoa como a areia entre os dedos.

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Letra e música: Aníbal Raposo

Voz: Piedade Rego Costa

Arranjo: Carlos Frazão

Álbum: "7 Anos de Música"