quinta-feira, 11 de março de 2010

Torga em S. Miguel

Ponta Delgada, 16 de Março de 1970 – Aqui tenho já no aconchego dos olhos alguns aspectos reais de S. Miguel, que começou por ser uma fantasmagórica linha convexa no mostrador do radar de bordo, foi progressivamente passando de miragem a vulto informe, se clarificou a seguir em manchas risonhas de cultivo e casario, e finalmente pude sentir concreta e vulcânica debaixo dos pés.
São disparos sôfregos da retentiva, sem ângulo estudado, nem luz medida. Relances citadinos, instantâneos humanos e, sobretudo, panorâmicas da ilha, sempre com o mar ou uma cratera à vista. As imagens mais emocionadamente recolhidas, de objectiva focada nas Sete Cidades, justamente por causa desse nervosismo da alma, creio que ficaram tremidas. Assombrado, perdi a firmeza diante dum tal fascínio, que Raul Brandão, a pinceladas de caneta, me inculcara à curiosidade na figuração de uma fresca aguarela, de tintas ainda a escorrer, e que, afinal, desdenhava soberanamente de todas as paletas e desafiava os mais ousados voos da imaginação. Tão certo é haver trechos da natureza que, por mais poderosa que seja a mão do escritor, nunca poderão transformar-se em trechos de literatura. Ficam neles meras e sugestivas ficções. Ou então sou eu que, faça o que fizer, não consigo ver pelos óculos de ninguém. Seja como for, no caso presente, a representação que trazia no pensamento não correspondia à realidade. E acabei por gastar o rolo emotivo a abrir e a fechar a retina, numa espécie de frenesim suicida, como se todo eu, na ânsia de apreender o inapreensível, me precipitasse cego naquele abismo de cor, idílico e terrível ao mesmo tempo, de paredes abruptas e alcatifado por um lago de límpida transparência, a reflectir com irónica serenidade o pasmo e a angústia de quem olha de cima.
Miguel Torga, Diário XI

segunda-feira, 8 de março de 2010

Uma Mulher com M grande

Maria Norberta Amorim (à esquerda)
Tive o privilégio de conhecer a Professora Doutora Maria Norberta Amorim, quando frequentei, na Universidade do Minho (Pólo de Guimarães), o Mestrado de “História das Populações”.
Esta Senhora, natural da Ilha do Pico, é um marco na investigação em Demografia Histórica. Adaptando o método francês de reconstituição de famílias, de Louis Henry e Michel Fleury, à especificidade dos registos paroquiais portugueses, criou o novo método de reconstituição de paróquias.
Maria Norberta de Simas Bettencourt Amorim, nasceu a 14 de Janeiro de 1943 na freguesia de S. João, concelho das Lajes do Pico.
Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1971), desde 1969 que se dedicou à Demografia Histórica, num trabalho pioneiro em Portugal de análise demográfica para o período do Antigo Regime.
Tendo por base os registos paroquiais (de baptismo, casamento e óbito), existentes em Portugal desde finais do séc. XVI, a metodologia de reconstituição de paróquias tornou possível um aprofundamento de fenómenos, como a Mortalidade e a Mobilidade, que a metodologia de Fleury-Henry não permitia, e a interpretação da evolução da população à luz da interacção das variáveis demográficas, de Fecundidade, Nupcialidade, Mortalidade e Mobilidade.
O cruzamento com outras fontes (róis de confessados, matrizes prediais, listas de eleitores, autos de visitação e de desobriga, etc.) em encadeamento genealógico, tem permitido um grande desenvolvimento da História da Família e da História Social.
Os recursos informáticos possiblitam, hoje, a agilização do processo e a metodologia de reconstituição de paróquias é usada por largas dezenas de investigadores não só em Portugal, mas também na Espanha e na América Latina.
Professora catedrática da Universidade do Minho hoje aposentada, continua como investigadora do NEPS (Núcleo de Estudos de População e Sociedade), por si projectado.
Em Dia Internacional da Mulher, quero prestar, aqui, homenagem à grande investigadora e ao grande ser humano que é a Professora Maria Norberta Amorim, por acaso açoriana e picarota.

terça-feira, 2 de março de 2010

PARABÉNS A VOCÊ...

As maiores felicidades e a minha sincera gratidão
por tudo o que a sua escrita me tem dado.