domingo, 29 de junho de 2008

Cavalhadas de São Pedro

E a festa da Ribeira Seca continuou, hoje, com as famosas CAVALHADAS. As fotografias são de 2003.
As Cavalhadas de S. Pedro
As Cavalhadas da Ribeira Seca da Ribeira Grande são uma das tradições mais notáveis e famosas dos Açores. O nome deriva do Castelhano caballadas (de caballo), que se refere a vários tipos de provas de destreza equestre. Câmara Cascudo, no Dicionário de Folclore Brasileiro, define cavalhada como desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogos de canas, jogo de argolinhas. As cavalhadas subsistem em muitas partes do Brasil, e as de Pirenópolis, no Estado de Goiás, ligadas às festas do Espírito Santo, seguem a tradição europeia da dramatização da luta de Rolando contra os Mouros, em Roncesvales, a célebre gesta dos Doze Pares de França. As primeiras cavalhadas de Pirenópolis aconteceram em 1826, sendo a maior parte dos seus habitantes oriunda do Norte de Portugal. Em Vildemoinhos, perto de Viseu, mantêm-se como desfile de cavaleiros vestidos de fato escuro e montando cavalos ajaezados. Resultam, segundo a tradição, de uma promessa feita a São João Baptista pelos moleiros, no caso de conseguirem sentença favorável de água para os seus moinhos, havendo quem pense que têm influência das Cavalhadas da Ribeira Seca. A primeira destas romagens à capela do santo, com os cavaleiros vestindo de negro, como os nobres, e com os cavalos ajaezados, terá sido em 1652. No entanto, no século XX passaram a incluir carros alegóricos, bandas de música, ranchos folclóricos e muitos outros elementos que não faziam parte da tradição.
Há a opinião generalizada de que as Cavalhadas da Ribeira Seca terão sido inspiradas nos jogos de canas. No entanto, essa influência, se realmente existiu, talvez não tenha ido além do facto de se tratar de um desfile de cavaleiros, vestidos com trajes coloridos e montando cavalos ajaezados.
Os jogos de canas consistiam numa simulação de luta entre dois grupos de cavaleiros, e eram assim chamados por ser uma cana que servia de lança de arremesso ou dardo. Para se defenderem, os cavaleiros usavam um escudo pequeno e redondo de coiro, a adarga. Há notícia de alguns destes combates realizados em São Miguel, sendo aquele de que se conhecem mais pormenores o que organizou o quinto Capitão da ilha, Rui Gonçalves da Câmara, o segundo que houve com este nome. Foi num dia de Páscoa, pouco tempo depois da subversão de Vila Franca do Campo em 1522. A folgança destinou-se a divertir a população de São Miguel, ainda muito abalada pelos trágicos acontecimentos daquela noite de 22 de Outubro. Os contendores de Ponta Delgada e da Lagoa lutaram contra cavaleiros da Ribeira Grande – a que se juntou alguma gente de Rabo de Peixe –, de Água de Pau e de Vila Franca. Vestiam trajes coloridos de seda, veludo e outros tecidos nobres. Os de Vila Franca, em sinal de luto, usaram apenas o preto e o roxo. Os cavalos, e mesmo uma besta que transportou as canas, estavam também ricamente adornados. O combate decorreu num terreno ao longo do mar, na Lagoa, onde o Capitão residiu algum tempo depois da tragédia. Veio muito povo, de toda a ilha, que assistiu num lugar mais alto, de modo a estarem todos protegidos de eventuais pisadelas dos cavalos ou de alguma cana que falhasse o alvo.
Muitos eram os cavaleiros que usavam mais do que um cavalo, porque a luta lhes exigia um grande esforço. Havia arranques e paragens constantes e corridas com mudança de direcção em ângulos apertados, numa espécie de bailado para fugir ao ataque dos adversários ou para tentar apanhá-los desprotegidos. Nesse jogo de canas houve um episódio que serve para perceber como, por vezes, essa simples diversão poderia tornar-se numa luta perigosa. Esteve ali presente o Abade de Moreira, que viveu alguns anos na Ribeira Grande, exímio na arte de cavalgar e de jogar as canas. Lutador incansável, levou consigo dois cavalos. Um dos adversários com quem lutou foi D. Manuel da Câmara, filho do Capitão, a quem atirou uma cana certeira que o moço defendeu com a adarga. A mãe, D. Filipa Coutinha, exaltou-se muito, considerando que o filho tinha direito a tratamento semelhante ao de El-Rei, a quem as canas não deviam visar o vulto mas ser lançadas por cima da cabeça. E, no seu destempero, gritou que matassem o abade. Este, homem forte e truculento, pegou num dardo e respondeu que viessem matá-lo, mas que antes deixaria ali cinco ou seis caídos para sempre. Mais sensato, Rui Gonçalves da Câmara entendeu que o filho não tinha direito a isenções, e mandou ao abade que lhe atirasse outra cana. A origem das Cavalhadas – e neste ponto é indispensável evocar o Dr. Armando Cortes Rodrigues – é tida como resultante de uma promessa do próprio Capitão, que era então D. Manuel da Câmara e que já voltara a residir em Vila Franca. A lava da erupção de 1563 destruiu a maior parte da Ribeira Seca da Ribeira Grande, deixando porém intacta a igreja paroquial, dedicada a São Pedro. Apesar da devastação provocada, não houve nenhum morto na ilha por sua causa. D. Manuel da Câmara teria prometido ir cantar em verso a vida do apóstolo à porta da sua igreja, caso a família não sofresse consequências graves. E tê-lo-á feito indo de Vila Franca à Ribeira Seca a cavalo e acompanhado de homens que o serviam e dos mordomos do Espírito Santo.
Ora, mesmo que se tenha por certa esta versão, não se percebe onde estará a dita derivação das Cavalhadas a partir dos jogos de canas. Talvez não mais do que nos trajes usados pelos cavaleiros, em que dominam o branco e o vermelho (as cores do Espírito Santo), pois que D. Manuel da Câmara e o seu séquito terão ido decerto com os ornamentos pessoais e dos cavalos que ostentariam em momentos de gala. E os jogos de canas eram um desses momentos especiais, tanto mais que costumavam ocorrer em dias de grande festa. A comitiva do Capitão terá dado sete voltas à igreja de S. Pedro, talvez evocando os dons do Espírito Santo, dirigindo-se depois à sua igreja da Misericórdia, para concluir o ritual com uma visita à ermida de Santo André, irmão de S. Pedro. Sem grandes alterações no essencial é este o percurso actual do cortejo, normalmente com mais de uma centena de participantes. São comandados pelo “Rei”, seguido de perto por três corneteiros que vão anunciando a aproximação e passagem dos cavaleiros. Tornou-se habitual que todo o grupo, que parte do Solar da Mafoma, na Ribeira Seca, visite também a Câmara Municipal, entoando loas à edilidade como reconhecimento pelo apoio que dela recebem.
Daniel de Sá

sábado, 28 de junho de 2008

As Alâmpadas de S. Pedro

Daqui, desta cidade do Porto séria e aburguesada, há sempre um pensamento, terno e saudoso, que voa para a minha ilha encantada.
Estamos no S. Pedro e há festa rija na Ribeira Seca [Ribeira Grande]. Penduradas aqui e ali, já as alâmpadas emprestam à cidade um ar de festa. Lembro-me bem da primeira vez que vi aqueles cachos de flores e frutos entrelaçados, enfeitando as varandas da Ribeira Grande. São realmente belíssimas e, para falar delas, dou a palavra a Daniel de Sá, a quem agradeço o muito que me tem ensinado.

As alâmpadas são arranjos florais, que incluem frutos, destinados a ornamentar a paroquial da Ribeira Seca da Ribeira Grande e a oferecer a pessoas que se queira honrar durante as festas de S. Pedro. A sua forma reproduz a de um lampadário.

Sendo os frutos utilizados os primeiros da estação, que se designam “lampos”, deriva deste facto, sem dúvida, o termo “alâmpada”. É que “lampa”, além de se assemelhar à palavra “lâmpada”, já foi, em português arcaico, um seu sinónimo.

Existem registos desta palavra (lâmpada) desde meados do século X, tendo o substantivo evoluído para “alâmpada” (prótese do artigo “a”) no séc. XIV e para “lampa” no XVII, através do processo de síncope do “d” (“lampaa) e posterior contracção de “aa”.

Segundo o Dr. Cortes Rodrigues, a origem das alâmpadas estará nas ofertas dos primeiros frutos colhidos depois da esterilidade provocada pelo vulcão de 1563.

Daniel de Sá

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O RECONHECIMENTO MERECIDO

Nesta casa da Maia (Ribeira Grande), vive um Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Claro que já toda a gente sabe quem é.
Para quem andar distraído, pode saber a resposta no Blogue Luar de Janeiro.

terça-feira, 10 de junho de 2008

A PÁTRIA NO CORAÇÃO

Michael de Brito, Dinner Guests
Michael de Brito, Avó Pequena Michael de Brito, Small Kitchen Scene
Os portugueses de fora crêem-se por vezes mais patriotas do que os de dentro porque, no confronto com os outros da terra adoptiva, são movidos pela necessidade de se agarrar ao que sentem como particularmente seu, e que partilham apenas com os seus compatriotas que perto de si vivem, mas também com os que ficaram na pátria longe. Daí uma corrente magnética, o cordão umbilical da cultura, que se estabelece imitindo vibrações quase num só sentido - de fora para a pátria. Costuma chamar-se a isso "saudade". Evidentemente que isso não nos torna moralmente superiores. É um reflexo natural de sobrevivência que nos impele a agarrar-nos àquilo que instintivamente sentimos como nosso e que a distância geográfica e cultural ameaça fazer-nos perder.

Onésimo Teotónio Almeida, in Público [10.06.2008]

Michael de Brito, Afternoon Conversation

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Onésimo Teotónio Almeida - nasceu em 1946, no Pico da Pedra (S. Miguel), escritor, professor catedrático do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade de Brown (Providence), residente nos EUA há 30 anos.

Michael de Brito - nasceu em 1980, em New Jersey, filho de emigrantes portugueses do Algarve. Os quadros aqui publicados mostram bem as raízes portuguesas e fazem parte de exposição patente na Eleanor Ettinger Gallery, em Nova Iorque.

sábado, 7 de junho de 2008

Homenagem ao ciclone dos AÇORES

Ao começar o Euro/2008, quero aqui lembrar o "voo do milhafre" PAULETA.
Para lhe agradecer as muitas alegrias que deu, a mim e
a todos os portugueses.
FORÇA, PORTUGAL!!!