sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Natal 2007 * Ano 2008

A MINHA MENSAGEM DE NATAL

[...]

Mais império menos império,

mais faraó menos faraó,

será tudo um vastíssimo cemitério,

cacos, cinzas e pó.

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Compreende-se.

Lá para o ano três mil e tal.

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E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

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António Gedeão, Poema do Alegre Desespero

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O nosso mundo está a viver, quer queiramos quer não, um período revolucionário da trajectória da Humanidade. Enfrenta, dolorosamente, desafios nunca sonhados. É hora de parar e reflectir.
Independentemente das religiões professadas, a maior parte do mundo ocidental festeja o Natal. Mas o Natal não pode resumir-se aos presentes, às ruas iluminadas, ao bacalhau, às rabanadas e ao bolo-rei... ou a qualquer outra tradição.
Por acaso pensamos no que estamos a festejar? Todos dirão: o nascimento de Jesus Cristo. Só que o nascimento dum homem bom [ou do Filho de Deus, se preferirem ] deve, acima de tudo, levar-nos a reflectir na mensagem que deixou. Longe de estar ultrapassada, ela indica o caminho a seguir, HOJE, se queremos sobreviver no nosso planeta.
Afinal, como têm vivido os homens: uns com os outros ou uns contra os outros?
Começamos por descobrir que as palavras de ordem da sociedade dominante, a sociedade ocidental baseada na competição, conduzem a colectividade humana à catástrofe. O futuro é, hoje, ditado pelos banqueiros. Para resolver os seus problemas, as nossas sociedades recorrem a um processo que crêem mágico: o CRESCIMENTO. Consumamos sempre mais e tudo correrá da melhor maneira. As consequências dessa visão estão debaixo dos nossos olhos: uma Terra maltratada, onde sobressaem graves desequilíbrios ambientais e um esgotamento dos recursos; sociedades profundamente desiguais, ilustrativas da injustiça e da exploração de homens por outros homens.
Jesus Cristo [como mais tarde, Francisco de Assis e também, à sua maneira, os seguidores do Budismo e do Socialismo (o autêntico) e muitos outros impossíveis de identificar aqui], ousou dizer não ao dinheiro, ao egoísmo, ao poder, à violência, à guerra; ousou dizer sim ao amor, ao respeito pelo próximo, à ideia de que o Homem habita um Universo comum, que com ele forma um todo e de cuja harmonia depende a sua sobrevivência.
Esta é a preciosa herança que Cristo nos legou. A que talvez valha a pena seguir para bem de nós todos.
Os tempos vão sombrios... O futuro?....... ??????????????

Para todos:

UM BOM NATAL!

UM 2008 MAIS JUSTO E SOLIDÁRIO!!!

Fonte: Ensaio sobre a Pobreza de Albert Jacquard

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

As tradições portuguesas

Por alturas do Natal, quando vivia na Ribeira Grande, comecei a reparar numas tacinhas com lindas plantas verdes que as empregadas da Escola onde leccionava, colocavam na sala dos professores. Claro que tentei logo saber o que aquilo era. Disseram-me que se tratava duma tradição natalícia e explicaram-me como se procedia à sementeira do trigo e da ervilhaca. Fui logo comprar as sementes e experimentei. A partir daí, as "searas" fazem parte do meu Natal, primeiro em S. Miguel, agora no Porto.
Claro que pensava tratar-se duma tradição açoriana. Qual não é o meu espanto quando ao entrar numa igrejinha em Querença (Loulé), encontrei o presépio que fotografei e aqui publico.
Agora sei que se trata duma tradição, inicialmente algarvia, que madeirenses e açorianos adoptaram. Estes, se não estou confundida, tê-la-iam levado para Santa Catarina (Brasil), povoada maioritariamente por casais açorianos.
É linda esta capacidade de levarmos connosco, para todo o lado, aquilo que nos é querido. Um povo com memória é um povo com Alma.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O Porto recebe os Açores

S. Miguel - Lagoa do Fogo

Porto - Rotunda da Boavista - Monumento à Guerra Peninsular

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Recebi, da “Associação para a Medicina, as Artes e as Ideias”, com sede na Rua do Campo Alegre, no Porto, um convite para o Jantar Comemorativo do seu 5º Aniversário.
Reparem na ementa! Deliciem-se e fiquem orgulhosos! Eu fiquei, acreditem.
Simplificando, reza assim:
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Um jantar especial...
A História
A viagem aos Açores, no passado mês de Maio, a propósito da Rota do Chá, torna o Jantar Comemorativo do 5º Aniversário da AMAI ainda mais especial. Para partilhar connosco o mistério do encantamento das Ilhas, os caprichos da Terra Vulcânica e a surpreendente e sofisticada gastronomia que daí resultam, desloca-se ao Porto a Chefe Guiomar Correia, do Restaurante “A Colmeia” (Hotel do Colégio), em Ponta Delgada. Com a ementa, que cuidadosamente preparou, chegam até nós especialidades açorianas únicas – muitas delas inexistentes no circuito comercial – e um toque mágico a Natal.
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A Ementa
Chicharro de S. Miguel Recheado, com Vinagreta de
Pimenta da Terra
Verdelho do Pico
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Cornucópia de Frutos do Mar dos Açores
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Lombo de Cherne com Ouriço-do-mar, em molho de pétalas
de açafroa e puré de inhame
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Nacos Extra de Novilho dos Açores IGP, com papas de carolo no forno e abóbora assada em vinho verdelho do Pico
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Troucha de Queijo velho de S. Miguel, com Banana e
Compota de Araçá
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Mousse de Anona, Trufa de Ananás e Coulis de Uva da Serra
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Bolo de Natal; Amendoins Cobertos
Licor de Tangerina
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Os Vinhos
Vinhos da Herdade do Perdigão – Portugal cum laude
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Depois deste jantar, acho que vou participar num dos fins-de-semana temáticos da Associação: Um passeio de Burro, em Trás-os-Montes.
Imaginação e qualidade não lhes falta.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A Pianista que gostava de saber pintar

GABRIELA CANAVILHAS
“[...] Não posso deixar de desabafar outra problemática, que é sentir na sociedade em geral, nos públicos, nos parceiros, nos patrocinadores, um aligeiramento das fasquias.” “Cada vez mais nos é pedido para baixar o nível, para fazer música soft, música light, tocar com os grupos rock, com o fado. Acho lindamente fazer projectos com música ligeira, mas não pode ser esse o objectivo da orquestra. Queremos apresentar repertórios que exijam trabalho mental do público. A maior parte dos nossos patrocinadores são compradores de concertos. Fazem protocolos em que nos patrocinam com determinada verba e em troca têm “x” concertos, ou então patrocinam-nos para um concerto “x”, onde gostam de ter uma palavra. O que eu critico é o nível cultural que nos pedem, para nivelar por baixo em vez de sermos motores do desenvolvimento e obrigarmos o público a subir os seus níveis de exigência. Quando o público é confrontado com obras de muita qualidade, mesmo que sejam difíceis, rende-se. Ninguém pode não gostar daquilo que não conhece.”
“[...] porque não se pode só governar ao gosto do público, tem também de se estabelecer paradigmas para criar nova massa crítica. [...]
Acho que tenho um cargo político. Quando se interage com a sociedade está-se a fazer política. A política é muito aliciante desde que seja para melhorar a vida das pessoas, para genuinamente fazer a diferença.” [...] Quando for grande quero saber pintar.”
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Esta é a mulher que, a 7 de Outubro passado, disse o que se transcreveu acima numa longa entrevista ao Notícias magazine. Chama-se GABRIELA CANAVILHAS, é pianista com 7 discos editados, venera Schubert e é açoriana. Deu uma nova vida à Orquestra Metropolitana de Lisboa que, em 2003, encontrou numa situação financeira “devastadora”. É presidente da Associação Música – Educação e Cultura que gere duas orquestras (a Metropolitana de Lisboa e a Orquestra Académica Metropolitana) e dois estabelecimentos de ensino: a nível superior, a Academia Nacional Superior de Orquestra; a níveis básico e secundário, o Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa. São fundadores da AMEC a Câmara Municipal de Lisboa, os ministérios da Cultura, da Educação e do Trabalho e da Solidariedade Social /Inatel e as Secretarias de Estado do Turismo e da Juventude e Desporto.
Se todos os que ocupam cargos públicos tivessem o grau de exigência desta artista açoriana, tudo no país estaria bem melhor. Grande mulher! E, ainda por cima, linda.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Novo Livro de Cristóvão de Aguiar

Cristóvão de Aguiar apresentará no sábado, 10 de Novembro de 2007, pelas 21 h, na Casa dos Açores do Norte (PORTO), a obra, editada pela Almedina,
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A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias
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Cristóvão de Aguiar nasceu no Pico da Pedra, concelho de Ribeira Grande, ilha de S. Miguel (Açores), em 1940. Frequentou a Escola Primária no Pico da Pedra, terminou o Curso Complementar no Liceu Nacional de Ponta Delgada (1960) e licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1968).
Fez a Guerra Colonial, na Guiné, entre 1965 e 1967.
Foi professor em Leiria (1969-72) e redactor da revista Vértice (1967-82). É, desde 1972, Leitor de Língua Inglesa na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, cidade onde reside. Como escritor recebeu o prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa (1978), para Raiz Comovida I, a Semente e a Seiva; o Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/CMP (1999), para Relação de Bordo I; o Prémio Nacional Miguel Torga/Cidade de Coimbra (2002), para Trasfega, casos e contos.
Foi agraciado, em Setembro de 2001, com o grau de comendador da Ordem Infante Dom Henrique, pelo Presidente da República.
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Para quem não conhece, aqui fica, o início de A Semente e a Seiva (da trilogia Raiz Comovida):

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O dia de cozedura de Vavó Luzia calhava sempre à sexta-feira; o chão da cozinha, revestido de tijolos vermelhos, que nos outros dias da semana se podia varrer com a língua, ficava, nesse dia, num verdadeiro esparrame: os molhos de lenha de ramada e de tremoceiros atados com um baraço de tabuga, emedados ao pé do talhão da água, os alguidares de barro da Vila em cima da amassaria, a massa levedando que era um louvar a Deus (ela nunca se esquecia de a benzer e encomendar no fim da amassadura, ao acrescentar-lhe o fermento) e Vavó, lenço pela testa e amarrado atrás, na nuca – a cova do ladrão -, numa dobadoira viva, as faces tintas do lume, ora tendendo o pão já lêvedo, ora botando lenha no forno para o esquentar. Todas as manhãs que Nosso Senhor botava ao mundo, no meu caminho para a escola do senhor professor Anacleto, o Caniço, por ser acrescentado em tamanho e escanzelado de carnes, era certo como a Igreja que tinha paragem obrigatória na tenda de tanoeiro de meu avô José dos Reis, à ilharga esquerda da casa, pedia-lhe a bênção, Vavô subença, Deus te abençoe, meu rico home, e, enquanto o diabo esfregava um olho e coçava o rabo pelado, dava eu meia volta pelas traseiras e ia direito à cozinha, onde seria milagre não se encontrar Vavó Luzia na lida das panelas, da lavação ou, se era dia azado, no cerimonial da cozedura do pão trigo e do pão de milho, dos bolos de rala e dos biscoitos feitos da rapadura dos alguidares, rijinhos, famosos para se migar na tigela de barro vidrado, da Lagoa, cheia de chá com leite.

sábado, 27 de outubro de 2007

ZECA MEDEIROS

O Zeca é um pássaro. Ele canta, encanta, inventa e reinventa, sem nunca cansar quem o ouve - e quem o vê. Porque ver o Zeca é tão importante como ouvi-lo [...] na entrega, no modo inteiro como interpreta as suas canções de amor e mágoa, esperança e desencanto e saudades de um futuro em que não desiste de acreditar, mesmo se o presente tantas vezes parece empenhado em desmenti-lo. [...]
Ainda por cima, o Zeca é uma das melhores pessoas que me foi dado conhecer e ter como amigo, o que não é nada despiciendo nestes tempos em que a honra e a verticalidade são tão desprezadas, em contraponto com a leviandade e a hipocrisia, convertidas em valores instituídos da sociedade do faz-de-conta em que nos querem fazer viver.”
Viriato Teles
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José Medeiros, o Zeca Medeiros, nasceu em Vila Franca do Campo, ilha de S. Miguel, em 1951. Para além de realizador de televisão, é cantor, compositor, letrista, actor. Portanto... um homem cheio de talentos.
Funcionário da RTP Açores, desde 1976, realizou trabalhos televisivos como: “Xailes Negros” (1986); “Sete Cidades - A Lenda do Arcebispo” (onde se desdobra como compositor, letrista e intérprete; “Gente Feliz com Lágrimas”, série baseada no romance homónimo de João de Melo; “O Barco e o Sonho”, adaptação da novela com o mesmo nome de Manuel Ferreira. Esteve presente nas bandas sonoras de “Mau Tempo no Canal” e “Feiticeiro do Vento”.
Entre outros, gravou “Cinefílias e Outras Incertezas” que deu origem a um espectáculo, que tive o privilégio de ver, no Teatro Ribeiragrandense e achei fabuloso.
Com o CD “Torna Viagem”, conquistou o Prémio José Afonso, em 2005.
Recentemente, foi o Cipriano (e que pena “morrer” tão cedo) na telenovela “Ilha dos Amores”, ainda a passar na TVI.
Gosto muito de o ouvir cantar e reconheço nele um enorme talento. Presto aqui, apenas, uma pequena homenagem a um “filhos de S. Miguel” que engrandece tanto os Açores como o País.
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CANTIGA DA TERRA
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Quero ver o que a terra me dá
Ao romper desta manhã
O poejo, o milho e o araçá
A videira e a maçã.
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Ó mãe de água, ó mãe de chuvas mil
Já não quero o teu aguaceiro
Quero ver a luz do mês de Abril
A folia no terreiro.
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E vou colher inhames e limões
Hortelã e alecrim
E vou cantar charambas e canções
P´ra te ver ao pé de mim.
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E nos requebros deste teu “bailhar”
Quero ser o cantador
E vou saudar a várzea desse olhar
Ao compasso do tambor.
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Zeca Medeiros (intérprete e autor da letra e da música )

sábado, 20 de outubro de 2007

A "minha" ilha

A Ilha Do Meu Fado
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Esta ilha que há em mim
E que em ilha me transforma
Perdida num mar sem fim
Perdida dentro de mim
Tem da minha ilha a forma
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Esta lava incandescente
Derramada no meu peito
Faz de mim um ser diferente
Tenho do mar a semente
Da saudade tenho o jeito
* * *
Trago no corpo a mornaça
Das brumas e nevoeiros
Há uma nuvem que ameaça
Desfazer-se em aguaceiros
Nestes meus olhos de garça
* * *
Neste beco sem saída
Onde o meu coração mora
Oiço sons da despedida
Vejo sinais de partida
Mas teimo em não ir embora
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Letra: João Mendonça
Música: Zeca Medeiros
Intérprete: Dulce Pontes
... "Mas teimo em não ir embora"...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

AÇORES: o Paraíso por 9 ilhas repartido

"Sonha-se o Paraíso. Ele existe. Sonham-se nove paraísos. Eles existem. Sonha-se ir lá. E fui. [...] Vim com os olhos rasos de espanto e o coração pleno de gratidão, por trazer comigo para sempre, tudo o que vi e senti."

Maria da Graça Queiroz, in Tempo Livre (Revista do Inatel)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Gestos que enchem o coração

Hoje fui surpreendida com uma encomenda, vinda de S. Miguel e enviada por amigos meus, que aí vivem.
Trazia este postal por eles feito no computador.

Trazia, também, umas quantas embalagens do delicioso chá Gorreana, bolos lêvedos e caramelos de chocolate (da Maria da Glória Moniz, das Furnas), queijadas da Vila (de Vila Franca do Campo, claro!). Atirei a dieta às urtigas e preparei uma merenda a preceito, com adereços açorianos, como não podia deixar de ser.

Mas há mais... até me mandaram um inhame!!!!!

No verso do postal, escreveram: "Esperamos que, com este pequeno mimo, sintas os cheiros e os sabores desta ilha e mates as saudades."
Por vezes, há dias negros ou cinzentos nas vidas de todos nós. Hoje, o meu dia foi iluminado pelo carinho dos meus amigos.
Costumo dizer que "choro por tudo e por nada", mas hoje o choro não foi por nada. Vale a pena ter amigos que nos mimam, que sabem do que gostamos e que se esforçam por nos dar felicidade.
Gosto muito, muito, de vocês!
Mas desenganem-se! Ao contrário de me matarem as saudades da "nossa ilha", AUMENTARAM-NAS.
Obrigada por fazerem parte da minha vida.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Santa Maria, a ilha-mãe

Muito bom o novo livro de Daniel de Sá. Um "guia turístico" muito original, lindo, de grande qualidade gráfica e a escrita inconfundível do autor. Uma viagem, à História da ilha e das suas gentes, conduzida pela memória dos afectos.
O José Augusto Soares já pode lê-lo na íntegra. Espero que goste tanto como eu.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Memórias com 50 anos

O vulcão dos Capelinhos
Há 50 anos atrás, tinha acabado de fazer oito anos, vivia na cidade onde nasci (Barcelos) e preparava-me para, dez dias depois, voltar à escola e frequentar a minha 2ª Classe. Nesse tempo, o ano lectivo começava sempre, no Ensino Primário, a 7 de Outubro.
Lembro-me de, por esses dias, ter ouvido dizer que, nos Açores, o vulcão dos Capelinhos entrara em erupção. Não percebia, então, muito bem o que era um vulcão ou uma erupção; e, acerca dos Açores, tinha ideia de que era um lugar longínquo do nosso país. Com certeza que pedi explicações aos meus pais e irmãos mais velhos. Duvido que tivesse ficado esclarecida, mas “o vulcão dos Capelinhos” nunca mais abandonou a minha memória. Imagens dessa época não guardei, porque ainda não havia televisor lá em casa. A RTP tinha começado as suas emissões, precisamente, seis meses antes, a 7 de Março de 1957.
Só no dia 5 de Outubro de 2001, me foi permitido ver aquele pedaço de terra que o vulcão acrescentou à ilha do Faial. Foi um momento especial: um misto de fascínio e de respeito por este Planeta vivo que habitamos e cujo poder, por vezes, esquecemos.
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[“Lembro-me de que primeiro começaram os tremores de terra miudinhos, mas depois os abanões tornaram-se mais fortes, pelo que fui com o meu marido para uma casa mais baixa. Só no dia seguinte, de manhã, é que o meu sogro me disse que tinha rebentado um vulcão.” Num relato apaixonado, continua a desfiar a memória de juventude. Sua e do vulcão. “Como não sabia bem o que era, deu-me grande curiosidade e quis ver: havia água a ferver, parecia um lago, mas não tinha medo nenhum, só me assustava de vez em quando com as explosões. Mas mesmo quando ele deitava coisas para o ar, fumo, areia e pedras, achava que era ao mesmo tempo muito bonito. Mesmo não sendo bom para a agricultura e para as casas, tive um pouco de pena quando me fui embora, porque não consigo mentir – as explosões eram mesmo muito bonitas, sobretudo à noite. Ainda agora, aos domingos, costumo passear com a família até ao vulcão. Está diferente, é verdade, mas continua a ser um bom vizinho.” Também Manuel de Vargas Garcia foi um espectador privilegiado. Vive na cidade da Horta, entretido com o alindamento do seu jardim, e não tem dificuldade em recuar 50 anos no tempo: “Estava no Varadouro a passar férias e senti vários tremores de terra nessa tarde. Claro que fiquei preocupado, mas não liguei muito, tanto mais que à noite, apesar de muito escuro, tudo ficou mais calmo. Mas não dormi nada, porque os abalos voltaram a surgir. Quando amanheceu, decidimos voltar para a Horta e só quando chegámos é que soubemos que havia um vulcão. Depois, voltei lá várias vezes para ver o fenómeno.” E o fenómeno marcou-o para toda a vida: “Parecia uma panela de água a ferver, intercalada por explosões. Nessa altura tinha 35 anos, por isso recordo-me perfeitamente. Era, aliás, um sítio que conhecia muito bem, pois aquela baía era um paraíso de fauna e de flora, e costumava ir para ali pescar. Claro que quando apareceu o vulcão, tudo isso acabou.” Mas a nostalgia desses tempos nunca abandonou o espírito de Manuel Garcia: “Sempre que posso, ainda vou lá vê-lo para saber como está o vulcão que vi crescer.” A erupção submarina prosseguiu nos dias seguintes, enchendo o lugar de cinzas, escórias, roncos assustadores e cheiros sulfurosos. Os campos de cultivo e as pastagens cobriram-se de cinzento e as casas das imediações, nomeadamente no Capelo e no Norte Pequeno, ruíram ou abateram com a força dos tremores e pela acumulação da cinza. Surgiram, assim, os primeiros sinistrados, embora não houvesse vítimas a lamentar. Cinco dias depois, o vulcão já tinha emergido do mar e formara uma ilhota – baptizada de ilha Nova – de forma anelar, com 600 metros de diâmetro e 30 de altura. Duas semanas depois, crescera mais 200 e 70 metros, respectivamente. Ao longo do mês de Outubro, com a acumulação dos materiais expelidos, formou-se um istmo que abraçou os ilhéus dos Capelinhos e aproximou a ilhota da costa. A actividade incrementou e a coluna de vapores e cinzas atingiu grande altura, sobretudo porque parte da cratera era aberta ao mar, sendo assim inundada pelas vagas. Ninguém sabia o que iria acontecer, mas os receios eram fundamentados – a terra não parava de tremer. Nada que impedisse que, no meio deste turbilhão incandescente, alguns loucos corajosos tenham arriscado a pele para garantir a soberania daquele pedaço de terra fumegante para o Estado português. Havia receio de que a ilha Nova fosse reclamada por outra nação, como se não estivesse já em águas territoriais portuguesas. No dia 13 de Outubro, então, o jornalista Urbano Carrasco, do “Diário Popular”, e o cineasta Carlos Tudela, da RTP, entre outros, desembarcaram na ilha vulcânica e, ziguezagueando entre bombas e cinzas lançadas pela cratera principal, fincaram no solo uma bandeira portuguesa. Regressaram felizes e foram recebidos como heróis – um final feliz para um dos episódios mais surrealistas da história dos Capelinhos.]
Excerto da NATIONAL GEOGRAPHIC Portugal,
de Setembro, que publica o excelente artigo
"Capelinhos - O vulcão que mudou os Açores"

domingo, 23 de setembro de 2007

DANIEL DE SÁ imparável

Amanhã, 24 de Setembro, pelas 19.30 h, será lançado o novo livro de Daniel de Sá, "SANTA MARIA, a ilha-mãe". A sessão de apresentação será presidida pela Directora Regional do Turismo, na Vila do Porto, ilha de Santa Maria.
Daniel de Sá, que é natural de S. Miguel, viveu em criança em Santa Maria. Este livro parece ser uma viagem às memórias do passado, visto "com os olhos da saudade" que, como ele próprio diz, tornam as coisas mais belas.
Atrevo-me a deixar aqui umas "migalhas", para aguçar o apetite, do "manjar" que Daniel de Sá, com toda a certeza, nos vai servir.
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“À paisagem mariense, austera e bela, desigual e majestosa, corresponderam os homens com delicadeza, como que pedindo licença para ferirem vales, montes e planície com a sua presença abrigada. [...]
Casas feitas à medida humana. Com uma ténue semelhança de serem humanas elas mesmas, na frequência de fachadas só com uma porta e duas janelas. Até as chaminés mais antigas não se erguem muito acima dos telhados. As redondas vão um pouco mais alto, na sua elegância de navio a vapor. [...]
Se das povoações açorianas algumas merecem que se as compare a um presépio, é aqui que a comparação será mais acertada. [...]
Mas o presépio perfeito é Santa Bárbara, com as suas casinhas espalhadas por cerrados e outeiros, emolduradas por barras de azul-anil nas empenas, portas, janelas e ao rés do solo. Se o Valverde estará próximo da cor de Belém, nesta freguesia serrana, onde a ilha parece outra, já coberta de vegetação abundante a que não falta a laurissilva, basta imaginar umas leivas de musgo à volta do povoado para se ter a visão da maneira mais tradicional de armar o presépio nos Açores. [...]
Todos os visitantes deveriam poder ver os lugares aonde vão com olhos de saudade, porque só vista por eles a verdade se transfigura até à sua dimensão total. [...]
A outra espécie de museu é o miradouro da Vigia da Baleia, no caminho para a Maia, que lembra que em Santa Maria, como em todas as outras ilhas dos Açores, a aventura daquela caça também garantiu melhor sustento a muita gente. [...]
Ali floriram muitos laranjais. E poderia produzir-se tantos cereais como outrora, restando desses tempos as matamorras, covas onde se escondiam as provisões de boca que queria proteger-se dos ataques de corsários e piratas. [...]
São Pedro é o primeiro lugar do Mundo com que se tecem as memórias da minha vida. Devo-lhe isto para sempre. [...]”

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O "Inukshuk"

O "Inukshuk" tradicional
Os inuit, como são chamados os esquimós do Canadá, construíam monumentos de pedras sobrepostas, com forma humana, que serviam de sinalização e guia nas suas deslocações no Árctico gelado. Esses monumentos da arte inuit – os INUKSHUK - significam também amizade e são, hoje, um dos maiores símbolos do Canadá, sendo usados, a nível oficial, em homenagem à mais antiga cultura indígena do país. A sua popularidade levou a que fosse adoptado como logotipo dos Jogos Olímpicos de Vancouver (edição de Inverno) de 2010.
Pois agora, um açoriano da ilha de S. Miguel, de seu nome José de Melo, que emigrou para o Canadá há cerca de 35 anos, resolveu construir o Inukshuk mais alto do mundo, para que seja registado no Guinness. Esta peça de arte tem 11.77 metros de altura e pesa 82 toneladas. Até aqui, nada de novo. Muitos são os que querem entrar para o famoso livro.
Interessantes são as razões que, segundo o Sr. José de Melo, o levaram a fazer esta obra: Este Inukshuk pretende ser um "reconhecimento à arte e história dos povos aborígenes do Canadá", mas "também chamar a atenção para os produtos em granito que, além de serem materiais muito duradouros, não prejudicam o meio ambiente em que se inscrevem". O autor confessa ser um defensor atento da ecologia.
Tendo começado a trabalhar, no Canadá, como jardineiro, estabeleceu-se por conta própria e fundou uma empresa que extrai e trabalha o granito da sua pedreira, localizada na cidade de King, nas proximidades de Toronto.
São homens como este que nos fazem sentir orgulhosos dos emigrantes portugueses que, tendo de procurar o “pão” em países estranhos, não se deixaram abater, mostrando como a sua saída empobrece o país que se dá ao luxo de os perder.
O "Inukshuk" do Sr. José de Melo

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

As hortênsias de S. Miguel, no mês de Agosto

Hortência ou Hidrângeas
A hortênsia (Hydrangea macrophylla) é originária do Extremo Oriente mas, como sabemos, tornou-se numa espécie de "emblema" das ilhas dos Açores. As fotografias falam por si. Estas foram tiradas no mês de Agosto de três anos diferentes. São lindas! E..., no entanto, não passam dum pálido reflexo da explosão de cor e de beleza que se espalha pela ilha, nesta época do ano.

Agosto de 2002

Agosto de 2002
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Agosto de 2006
Agosto de 2007 Agosto de 2007

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

"O Pastor das Casas Mortas"

[...] “porque sabia que
esperar seja o que for
é uma maneira de estar vivo.”
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Acabei de ler “O Pastor das Casas Mortas” de Daniel de Sá.
Não vou fazer crítica literária. Porque não tenho competência, porque não acho necessário. Vou apenas dizer o que sinto.
Comoveu-me o que li; reencontrei o escritor que admiro; identifiquei, em Manuel Cordovão, o homem íntegro, sensível e de grande consciência moral e cívica que é Daniel de Sá.
Começa, logo na introdução, por nos “agarrar”, prometendo reescrever a história dum homem, a partir das agendas onde, ao longo dos anos, ele foi rabiscando pedaços da sua vida.
Numa escrita límpida, fresca e simples (Porventura, a mais difícil de conseguir...), leva-nos, através do passado, a problemas do presente (como o do despovoamento do interior do País ou o do fim dos velhos em “asilos disfarçados de lares de terceira idade") e de sempre (como o da vivência do amor, com todas as suas inseguranças, hesitações, alegrias e sofrimento).
É um livro de afectos. Mas que condena... a guerra que faz dos homens vândalos cruéis, sob o disfarce de “patriotismo”; os políticos que esquecem os direitos mais elementares do povo, que cabe a eles assegurar; a religião mal entendida pela ignorância bem intencionada de uns, como a catequista Angelina, e aproveitada por outros, para impor uma força e um poder imorais.
Daniel de Sá ressuscita a Guerra Colonial, as madrinhas de guerras, os aerogramas; as histórias dos Livros de Leitura, do antigo Ensino Primário, na figura do velho emigrante português em Buenos Aires, que compra com sacrifício um luxuoso relógio cujo bater de horas lhe lembra “o tocar dos sinos da sua aldeia”; os contadores de histórias, como o velho Vasco; os salvadores dos “vermelhos” , da Guerra Civil Espanhola, como o Francisco Poços. Cria a figura extraordinária da tecedeira Madalena que oferece, à pobre e jovem noiva Maria dos Anjos, a manta com que outros queriam presentear um ministro.
Não foram raros, durante a leitura, os momentos em que os meus olhos humedeceram. A honestidade e a bondade de Manuel Cordovão (ou de Daniel de Sá?) são verdadeiramente comoventes. A ternura com que adoça os últimos dias de Teresa; a mentira piedosa com que provoca o último sorriso feliz do tio Amadeu; o jogo de “sueca”, em que, fazendo par com Torre Velha, se esforça por ganhar, vencendo um “desejozinho” de vingança sobre o homem que lhe roubou o grande amor da sua vida.
E depois... quando se espera que, por fim, o sonho se realize e Manuel e Maria da Graça juntem para sempre as suas vidas, ambos compreendem que esse tempo passou. O sonho era demasiado grande para caber na realidade da vida. Viver aquele amor sonhado, ano após ano, seria matá-lo. A renúncia torná-lo-á eterno.
Peço desculpa, ao autor, por este comentário tosco que não reflecte o quanto gostei desta novela. Obrigada por a ter escrito!
A todos os que lerem este texto, recomendo: Leiam o livro! E comovam-se... e chorem... e recordem... e façam o que puderem para que acabem as casas e as aldeias vazias! Porque tudo isso enche, alarga e aquece o coração. E estamos a precisar tanto disso!...

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Golfinhos e Cachalotes

Cauda de cachalote
É sabido que durante décadas a caça à baleia foi uma actividade importante, nos Açores, que sustentou muitas famílias, sobretudo nas ilhas do Pico, Faial e S. Miguel. A partir do início dos anos 90, sendo já proibida esta caça, surgiu uma nova actividade económica no arquipélago e que é a observação turística de golfinhos e baleias, no seu meio natural (Whale Watching). Os arpões são, agora, substituídos pelas máquinas fotográficas dos turistas ansiosos por captar o movimento dos cetáceos, localizados no mar por “vigias” colocados em pontos estratégicos e de boa visibilidade, junto à costa. Seguindo as coordenadas, transmitidas via rádio, os barcos semi-rígidos dirigem-se para os locais onde eles se encontram e podem ser observados. Há 23 empresas de Whale Watching licenciadas no arquipélago. As embarcações levam cerca de 12 passageiros a quem são fornecidos, para além das instruções e dos coletes salva-vidas, alguns dados históricos sobre a baleação e informações sobre as espécies mais comuns nestes mares.
Golfinhos

No mar dos Açores, podem ser observadas cerca de 24 espécies de mamíferos, destacando-se especialmente os cachalotes e os golfinhos comuns. O cachalote é “a baleia mais emblemática dos Açores”, dado que é nas suas águas quentes que crescem estes animais, que podem atingir 20 metros de comprimento e mergulhar até 3000 metros de profundidade à procura dos moluscos de que se alimentam. Além das baleias de bico, também é possível encontrar baleias azuis (as maiores de todas), durante a Primavera. E, até, tartarugas e tubarões.

Cardume de golfinhos
O arquipélago é pioneiro, a nível europeu, em matéria de legislação para salvaguardar o bem-estar dos animais durante a observação. Desde 2004 que a legislação impõe, entre outra regras, desligar os motores dos barcos na presença dos cetáceos e a permanência a uma distância de 50 metros, não superior a trinta minutos.
Colónia de garajaus no Ilhéu de Vila Franca do Campo

Já tive a sorte de ver golfinhos, numa viagem de barco que fiz entre S. Miguel e Santa Maria, e fiquei maravilhada. As fotografias que aqui publico foram tiradas, no passado mês de Julho, por amigos que mas cederam e a quem muito agradeço.

Para terminar, um apelo:

Encantem-se com todas as maravilhas que os Açores têm para vos dar, mas por favor, não façam nada que possa prejudicar a “Natureza pura” destas ilhas!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

LUZ entre o Porto e S. Miguel

O Pedro Abrunhosa é do Porto, cidade onde resido. Conheci bem os seus irmãos e lembro-me dele ainda pequeno, na praia do Mindelo, onde morei uns tempos e eles passavam o Verão. Agora, o seu álbum “LUZ” integra a canção “Ilumina-me” que faz parte da banda sonora da telenovela “A Ilha dos Amores”.

A coincidência de Pedro Abrunhosa “fazer a ponte” entre dois dos meus grandes amores (o Porto e S. Miguel) serviu de pretexto à elaboração deste post.

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ILUMINA-ME

Gosto de ti como quem gosta do sábado,

Gosto de ti como quem abraça o fogo,

Gosto de ti como quem vence o espaço,

Como quem abre o regaço,

Como quem salta o vazio,

Um barco aporta no rio,

Um homem morre no esforço,

Sete colinas no dorso

E uma cidade p’ra mim.

*****

Gosto de ti como quem mata o degredo,

Gosto de ti como quem finta o futuro,

Gosto de ti como quem diz não ter medo,

Como quem mente em segredo,

Como quem baila na estrada,

Vestido feito de nada,

As mãos fartas do corpo,

Um beijo louco no porto

E uma cidade p’ra ti.

*****

Enquanto não há amanhã,

Ilumina-me, ilumina-me.

Enquanto não há amanhã,

Ilumina-me, ilumina-me.

*****

Gosto de ti como uma estrela no dia,

Gosto de ti quando uma nuvem começa,

Gosto de ti quando o teu corpo pedia,

Quando nas mãos me ardia,

Como silêncio na guerra,

Beijos de luz e de terra,

E num passado imperfeito,

Um fogo farto no peito

E um mundo longe de nós.

*****

Enquanto não há amanhã,

Ilumina-me, ilumina-me.

Enquanto não há amanhã,

Ilumina-me, ilumina-me.

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Letra e música de Pedro Abrunhosa

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Novo Livro de Daniel de Sá

O pastor das casas mortas” é a mais recente obra de Daniel Sá O livro foi lançado no passado dia 28 de Junho, em S. Miguel

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"O Pastor das casas mortas" é um novela cuja história se desenrola numa aldeia de pastores da Beira Interior, na segunda metade do século XX. A obra relata as memórias, guardadas em caderno, do pastor Manuel Cordovão e da sua aldeia. Segundo o autor, este livro "tem como fio condutor o despovoamento e as suas consequências numa pequena comunidade. A degradação das casas e a forma como ele é combatida por Manuel Cordovão, as amizades que acontecem e os amores que ficaram". Sobre o livro Medeiros Ferreira, que apresentou a obra no passado dia 28 de Junho, no Centro Cultural da Caloura, em S. Miguel, diz o seguinte: "Há 50 anos Portugal era um pavor manso. Estrito, este livro evoca as aldeias da Beira Interior. Dito, ele transporta os sons das freguesias além-Atlântico. Lido, ele revela que há uma hora certa na vida para o amor. O resto é a solidão do pastor. Tudo isto através da sensibilidade e do talento de Daniel de Sá". Para Medeiros Ferreira, "'O Pastor das Casas Mortas' oferece a chave para entender Daniel de Sá", transferindo para uma aldeia continental as vivências do meio rural de S. Miguel. Trata-se de uma novela sobre "o amor na hora certa", considerou, ouvindo do autor a ideia de que "é difícil quando escrevemos não nos escrevermos a nós próprios". A obra "O pastor das casas mortas" está disponível na Livraria Solmar, em Ponta Delgada.
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Biografia: Natural da Maia, ilha de S. Miguel, Daniel de Sá exerceu funções como docente. Ocupou igualmente diversos cargos públicos. Foi secretário regional e deputado nas duas primeiras legislaturas da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. De entre as obras publicadas figuram "Génese" (novela, 1982), "Sobre a verdade das coisas" (contos, 1985); "Um deus à beira da loucura" (novela, 1990), "Ilha grande fechada" (romance, 1992), "E Deus teve medo de ser homem" (novela, 1997), "A terra permitida" (novela, 2003), entre outros.

in Expresso das Nove on line

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Tenho a certeza de que será uma belíssima obra. As preocupações sociais, morais e existenciais, a importância do passado e da tradição, a grande sensibilidade e os momentos de grande intensidade dramática, estão sempre presentes na escrita de Daniel de Sá.

Quando acabei de ler "Ilha Grande Fechada", o primeiro livro dele que me chegou às mãos através dum amigo, as lágrimas rolavam-me pela cara e nem sei descrever o que senti. A ilha de S. Miguel há muito que tinha entrado no meu coração e Daniel de Sá encontrou nele, a partir desse momento, o seu cantinho.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

DANIEL DE SÁ: um escritor micaelense

A quantidade de trabalho requerida para criar e manter os níveis de progresso e economia do hemisfério ‘rico’ provocou o desequilíbrio familiar, principalmente por quase se haver perdido a presença da mãe como figura tutelar e permanente, sem que se lhe tenha encontrado alternativa satisfatória. Aos escravos com dono sucedeu a era dos ‘escravos’ com patrão (e dos patrões ‘escravos’ de si mesmos), peças dum mecanismo que subverte com frequência os ritmos sociais, familiares e biológicos normais."
Daniel de Sá, "A Criação do Tempo, do Bem e do Mal"

terça-feira, 19 de junho de 2007

Caldeira Velha, Ribeira Grande, S. Miguel, Açores

"Percebi que ninguém chega aos Açores mais do que uma vez. O primeiro passo nas ilhas é definitivo e irrevogável, marca-nos para o resto da vida o corpo em viagem."
Maria Orrico, A Terra de Lídia

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Emigração versus Amor

DOMINGOS REBELO, Emigrantes
MARÉ E NATIVIDADE
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O meu amor é como o mar revolto,
sendo tu o porto
em que me abrigo
após cada tormenta
nessa lida, lenta,
que começa ao despertar.
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Às vezes, não te vou mentir,
eu sinto a febre de partir
mas ao pensar em ti,
ao ver a luz do teu olhar,
não sei porquê acabo por ficar.
*****
O meu amor é um abandono
tão suave como a luz do Outono,
mistura de tristeza e de alegria
tu és, para mim,
assim como o romper
dum novo dia.
*****
Às vezes, só por um instante,
pressinto-te distante,
mas logo um beijo doce,
um breve abraço, dois segredos,
afastam para longe estes meus medos.
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Letra e Música: Aníbal Raposo
Intérpretes: Aníbal Raposo e Susana Coelho
Álbum: "7 Anos de Música"

segunda-feira, 11 de junho de 2007

IDÍLIO (Antero de Quental)

IDÍLIO
.....
Quando nós vamos ambos de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas.
.....
Ou, vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas,
Ao longe, no horizonte, amontoadas.
.....
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua:
Sinto tremer-te a mão, e empalideces...
.....
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
Antero de Quental (18 de Abril de 1842 a 11 de Setembro de 1891)
que nasceu e morreu em Ponta Delgada
Portas da Cidade (Ponta Delgada/S. Miguel/Açores)