quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Novo Livro de Cristóvão de Aguiar

Cristóvão de Aguiar apresentará no sábado, 10 de Novembro de 2007, pelas 21 h, na Casa dos Açores do Norte (PORTO), a obra, editada pela Almedina,
*************************************************************
A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias
*************************************************************
Cristóvão de Aguiar nasceu no Pico da Pedra, concelho de Ribeira Grande, ilha de S. Miguel (Açores), em 1940. Frequentou a Escola Primária no Pico da Pedra, terminou o Curso Complementar no Liceu Nacional de Ponta Delgada (1960) e licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1968).
Fez a Guerra Colonial, na Guiné, entre 1965 e 1967.
Foi professor em Leiria (1969-72) e redactor da revista Vértice (1967-82). É, desde 1972, Leitor de Língua Inglesa na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, cidade onde reside. Como escritor recebeu o prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa (1978), para Raiz Comovida I, a Semente e a Seiva; o Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/CMP (1999), para Relação de Bordo I; o Prémio Nacional Miguel Torga/Cidade de Coimbra (2002), para Trasfega, casos e contos.
Foi agraciado, em Setembro de 2001, com o grau de comendador da Ordem Infante Dom Henrique, pelo Presidente da República.
********************
Para quem não conhece, aqui fica, o início de A Semente e a Seiva (da trilogia Raiz Comovida):

*************

O dia de cozedura de Vavó Luzia calhava sempre à sexta-feira; o chão da cozinha, revestido de tijolos vermelhos, que nos outros dias da semana se podia varrer com a língua, ficava, nesse dia, num verdadeiro esparrame: os molhos de lenha de ramada e de tremoceiros atados com um baraço de tabuga, emedados ao pé do talhão da água, os alguidares de barro da Vila em cima da amassaria, a massa levedando que era um louvar a Deus (ela nunca se esquecia de a benzer e encomendar no fim da amassadura, ao acrescentar-lhe o fermento) e Vavó, lenço pela testa e amarrado atrás, na nuca – a cova do ladrão -, numa dobadoira viva, as faces tintas do lume, ora tendendo o pão já lêvedo, ora botando lenha no forno para o esquentar. Todas as manhãs que Nosso Senhor botava ao mundo, no meu caminho para a escola do senhor professor Anacleto, o Caniço, por ser acrescentado em tamanho e escanzelado de carnes, era certo como a Igreja que tinha paragem obrigatória na tenda de tanoeiro de meu avô José dos Reis, à ilharga esquerda da casa, pedia-lhe a bênção, Vavô subença, Deus te abençoe, meu rico home, e, enquanto o diabo esfregava um olho e coçava o rabo pelado, dava eu meia volta pelas traseiras e ia direito à cozinha, onde seria milagre não se encontrar Vavó Luzia na lida das panelas, da lavação ou, se era dia azado, no cerimonial da cozedura do pão trigo e do pão de milho, dos bolos de rala e dos biscoitos feitos da rapadura dos alguidares, rijinhos, famosos para se migar na tigela de barro vidrado, da Lagoa, cheia de chá com leite.

Sem comentários: