segunda-feira, 20 de agosto de 2007

"O Pastor das Casas Mortas"

[...] “porque sabia que
esperar seja o que for
é uma maneira de estar vivo.”
****************************
Acabei de ler “O Pastor das Casas Mortas” de Daniel de Sá.
Não vou fazer crítica literária. Porque não tenho competência, porque não acho necessário. Vou apenas dizer o que sinto.
Comoveu-me o que li; reencontrei o escritor que admiro; identifiquei, em Manuel Cordovão, o homem íntegro, sensível e de grande consciência moral e cívica que é Daniel de Sá.
Começa, logo na introdução, por nos “agarrar”, prometendo reescrever a história dum homem, a partir das agendas onde, ao longo dos anos, ele foi rabiscando pedaços da sua vida.
Numa escrita límpida, fresca e simples (Porventura, a mais difícil de conseguir...), leva-nos, através do passado, a problemas do presente (como o do despovoamento do interior do País ou o do fim dos velhos em “asilos disfarçados de lares de terceira idade") e de sempre (como o da vivência do amor, com todas as suas inseguranças, hesitações, alegrias e sofrimento).
É um livro de afectos. Mas que condena... a guerra que faz dos homens vândalos cruéis, sob o disfarce de “patriotismo”; os políticos que esquecem os direitos mais elementares do povo, que cabe a eles assegurar; a religião mal entendida pela ignorância bem intencionada de uns, como a catequista Angelina, e aproveitada por outros, para impor uma força e um poder imorais.
Daniel de Sá ressuscita a Guerra Colonial, as madrinhas de guerras, os aerogramas; as histórias dos Livros de Leitura, do antigo Ensino Primário, na figura do velho emigrante português em Buenos Aires, que compra com sacrifício um luxuoso relógio cujo bater de horas lhe lembra “o tocar dos sinos da sua aldeia”; os contadores de histórias, como o velho Vasco; os salvadores dos “vermelhos” , da Guerra Civil Espanhola, como o Francisco Poços. Cria a figura extraordinária da tecedeira Madalena que oferece, à pobre e jovem noiva Maria dos Anjos, a manta com que outros queriam presentear um ministro.
Não foram raros, durante a leitura, os momentos em que os meus olhos humedeceram. A honestidade e a bondade de Manuel Cordovão (ou de Daniel de Sá?) são verdadeiramente comoventes. A ternura com que adoça os últimos dias de Teresa; a mentira piedosa com que provoca o último sorriso feliz do tio Amadeu; o jogo de “sueca”, em que, fazendo par com Torre Velha, se esforça por ganhar, vencendo um “desejozinho” de vingança sobre o homem que lhe roubou o grande amor da sua vida.
E depois... quando se espera que, por fim, o sonho se realize e Manuel e Maria da Graça juntem para sempre as suas vidas, ambos compreendem que esse tempo passou. O sonho era demasiado grande para caber na realidade da vida. Viver aquele amor sonhado, ano após ano, seria matá-lo. A renúncia torná-lo-á eterno.
Peço desculpa, ao autor, por este comentário tosco que não reflecte o quanto gostei desta novela. Obrigada por a ter escrito!
A todos os que lerem este texto, recomendo: Leiam o livro! E comovam-se... e chorem... e recordem... e façam o que puderem para que acabem as casas e as aldeias vazias! Porque tudo isso enche, alarga e aquece o coração. E estamos a precisar tanto disso!...

Sem comentários: