O Convento de Nossa Senhora da Conceição, na Caloura (Água de Pau) teria sido fundado pelas filhas de Jorge da Mota, de Vila Franca do Campo. Pensa-se que foi o primeiro convento feminino da ilha de S. Miguel.
Por volta de 1520, duas religiosas deslocaram-se a Roma para pedir, ao Papa, a Bula Apostólica necessária. O Papa Paulo III não só lhes concedeu o documento que permitia a fundação do convento, como lhes ofereceu uma imagem do Ecce Homo.
Em 1541, devido ao isolamento e ao perigo de ataques piratas, as últimas ocupantes deste convento da Ordem de Santa Clara, mudaram-se para o Convento de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada, acabado de fundar pela viúva do Capitão Donatário, Rui Gonçalves da Câmara.
A imagem do Senhor Santo Cristo, oferecida pelo Papa, não ficou esquecida na Caloura, porque a religiosa galega, Madre Inês de Santa Iria, a levou para Ponta Delgada.
A devoção de Madre Teresa da Anunciada (25 de Novembro de 1658/16 de Maio de 1738), os sismos frequentes e a constante actividade vulcânica (que levavam o povo a refugiar-se na fé) intensificaram o culto ao Senhor Santo Cristo.
A primeira procissão realizou-se em 1700 e, diz-se que pôs fim a uma série de tremores de terra.
A imagem encontra-se, desde então, no “Coro Baixo”, ao fundo da Igreja de Nossa Senhora da Esperança. Esta é muito expressiva e consoante os modos como a luz lhe incide, parece que varia os sentimentos que transmite.
Numa enorme manifestação de fé e devoção, as festas do Senhor Santo Cristo realizam-se no quinto domingo após a Páscoa. As ruas de Ponta Delgada por onde passa a procissão, que demora cerca de 5 horas, enchem-se de tapetes de flores.
Na madrugada de sábado, os fiéis pagam as suas promessas, muitas vezes de joelhos.
Nesses dias, é bem visível a presença de emigrantes açorianos que se encontram nos Estados Unidos e no Canadá.
Esclarecimento de Daniel de Sá, que permitirá corrigir alguns factos do primitivo texto, baseado na história tradicional. Desde já, os meus agradecimentos ao amigo, e escritor querido, Daniel de Sá.
Sobre o Senhor Santo Cristo
(A propósito de uma notícia publicada na imprensa)
Com o respeito devido a quem terá dado as informações constantes em notícia deste jornal (08/02/2012), sobre as próximas festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, tento, uma vez mais, chamar a atenção para os erros óbvios que a história tradicional de tão sagrada devoção contém.
Em tal notícia se repete uma evidente impossibilidade, a de que a primeira procissão tenha sido em 1700. Desse cortejo, quase espontâneo, sabe-se que foi a onze de Abril e em dia de trabalho. E, naquele ano de 1700, o dia onze de Abril foi Domingo de Páscoa.
Também é dito que a procissão se repete há mais de três séculos, sempre no quinto Domingo depois da Páscoa. No entanto, a primeira terá sido, provavelmente, na 6ª-feira que se seguiu ao Domingo de Pascoela de 1698, e a segunda no Sábado, 16 de Dezembro (e não 17, como diz o padre José Clemente no livro sobre a vida de Madre Teresa) de 1713, para implorar a Deus o fim de uma crise sísmica em São Miguel. Da terceira e das seguintes nada se sabe. Nem o ano nem o dia. Mas não terão acontecido pelo menos na primeira metade do século XVIII.
A lenda da origem da belíssima imagem continua também a sobrepor-se à razão mais elementar. A versão tradicional é a de haver sido oferta do Papa Paulo III, feita a duas jovens que teriam ido a Roma pedir a bula para fundação do mosteiro de Nossa Senhora da Conceição, em Vale de Cabaços. Eis, sintetizadas, as razões que nos dão a certeza de que tal viagem não se verificou:
Era impensável, naquele tempo, quase impossível, a ida de duas jovens dos Açores a Roma;
Gaspar Frutuoso, que conta em pormenor a criação do convento, não alude a qualquer viagem ao Vaticano, seja delas ou de alguém por elas;
O convento foi fundado durante um terrível período de peste em São Miguel, desgraça que se seguiu à subversão de Vila Franca, tendo terminado apenas em 1530, tempo durante o qual a ilha esteve isolada, só se verificando para o exterior as viagens absolutamente essenciais;
Finalmente, e razão que bastaria para negar a origem atribuída a tão sagrada imagem, o Papa Paulo III foi eleito em 13 de Outubro de 1534, depois, portanto, de construído o convento.
P.S. – É estranho que, sendo os factos que negam a história tradicional tão evidentes, a lenda se tenha mantido até agora, e sabe Deus até quando. Por um lado, têm o muito frágil suporte do livro do padre José Clemente, um bem intencionado que parece que nunca esteve sequer em São Miguel, ilha a respeito da qual estava convencido de que nevava. Por outro lado, há a autoridade muito respeitável de Urbano de Mendonça Dias. Mas o ilustre investigador a quem tanto devemos também se enganou algumas vezes, como é óbvio no caso da data da primeira procissão do Senhor Santo Cristo. Ou, por exemplo, quando escreveu que a Maia não foi elevada a vila por ter sido em grande parte destruída por um incêndio. Ora aquele notável investigador fez, neste ponto, uma grave confusão. Gaspar Frutuoso, usando a linguagem do tempo, tanto se referia a um vulcão como terramoto ou como incêndio. E é assim que explica que a Maia teria sido vila se “não fora o incêndio segundo”, ou seja, a erupção da lagoa do Fogo, em 1563, cujas cinzas destruíram searas e outras culturas, deixando a terra estéril durante alguns anos.
Daniel de Sá
2 comentários:
Gostos destas festas populares. Também a Semana Santa em Braga é bem bonita, embora há três anos a esta parte tenha ndado por fora.E a nossa FESTAS DAS CRUZES? Lembra-se do tapete das flores n Igreja dom Senhor da Cruz? Um dia hei-de lá voltar, em homenagem ao meu pai que adorava aquela terra e tudo que nela havia.
Beijinho
Ibel,
Lembro, claro! Com o espelho a aumentá-los. Bem bonito!
Cheguei a ir no Cortejo de Flores.
Há muito que lá não vou, nessa altura. Não porque não goste das Festas, mas não me sinto muito bem no meio de multidões.
Beijo
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