Não sei onde foste buscar isto, mas já mandei a todos os que eu podia! Obrigada, Elisabete.
Este meu primo é o único Madruga que sai a meu Pai. Não é "Tal pai, tal filho", mas sim "Tal tio, tal sobrinho".
É grande a satisfação pelos feitos deste meu primo. Ainda outro dia dizia, não sei a quem, "meu primo está cumprindo o V Império". Ele é o único que está cumprindo o sonho do povo português que "deu novos mundos ao mundo" e quer ser GRANDE, mas perdeu a coragem de singrar em frente e apenas chora o que já não tem. Aqui não há D. Sebastião para resgatar o que quer que seja. Aqui há um homem de carne e osso que não teve medo de seguir um sonho, palpável e possível. Perseguiu o sonho e nunca soçobrou. Ele é o mito real; ele é o novo peregrino que leva os sonhos das nossas gentes até outras gentes, outras paragens; ele é cada um de nós, na ânsia de alcançar o infinito, a imortalidade. Bem hajas, Genuíno, por nos dares este condão de ainda acreditar. Graças a ti tornámo-nos MAIORES.
É mais do que justo lembrar aqui Genuíno Madruga, homem do Pico "naturalizado "faialense", que eu julgo ser o primeiro português a fazer a volta ao Mundo, em solitário, com passagem pelo mitíco Cabo Horn, no sentido Este-Oeste - o mais dificil. De acordo com a tradição, G.Madruga adquiriu o direito de usar argola na orelha direita (o lado que deu ao Cabo), por o pé em cima de mesa de Almirante e, desculpem, "de mijar contra o vento"..Coisas do tempo dos "cap-horniers", como chamavam aos marinheiros que passavam por aquele Cabo, no tempo das navegações à vela. Manuel Martins, outro solitário português, comissário da TAP, já fez a circum-navegação,mas optou pela mais "fácil", passando do Atlântico para o Pacifico pelo canal do Panamá. Outros portugueses fizeram a volta ao Mundo, mas sem ser a solo. Genuíno Madruga merece respeito e admiração, por fazer parte daquele grupo - não muito grande - de gente do mar que persegue um sonho até o cumprir. Está de acordo com as melhores tradições daqueles que, há mais de 40 anos, passavam pelo Café Sport, na Horta, que então não tinha metade da dimensão que tem hoje,e onde o velho Henrique Azevedo, sempre pendurado no seu cachimbo, e acompanhado pelo filho José (o Peter) os recebia e ajudava. À época chamavam-lhes os faialenses, "aventureiros" - e era isso que, na verdade, eles eram. Atiravam-se ao mar em embarcações quase rústicas, sem meios auxiliares, sem rádio e sem motor, navegavam em qualquer estação do ano - eram gente diferente e o próprio aspecto o evidenciava. O Genuíno diz que um deles, Marcel Bardiaux, o inspirou; dessa geração houve um outro, Bernard Moitessier, também francês, que em 1968 participou na lª volta ao Mundo, em solitário, sem escalas (sem paragens). Pois o homem ganhou uma tal paixão pelo mar que, à chegada e depois de centenas de dias no mar, resolveu continuar, fazendo mais 3 meses de navegação até às ilhas do Pacifico onde depois se fixou. Outro muito conhecido, e que era amigo do "Peter" foi Sir Francis Chichester, um homem que começou nos aviões para passar depois aos iates; já depois de ter sido armado Cavaleiro pela rainha Isabel, com 68 anos e com um cancro diagnosticado, voltou ao mar para fazer mais uma circum-nevagação... Podia ficar aqui que tempos, a falar sobre esta gente, e a lembrar como era a Horta e o Faial nos idos de 60, quando conheci o Peter, o seu pai Henrique e os clientes que frequentavam o Café Sport..num soturno, ventoso e chuvoso mês de Dezembro.. Em geito de parabéns ao Genuíno Madruga, aos picoenses, faialenses, açorianos - e também à prima "Mar de Bem" - deixo aqui um extracto da "Canción del Pirata", poema do espanhol José de Espronceda (século 19), um fabuloso hino à Liberdade, com o mar por tema..
"Que es mi barco mi tesoro, que es mi dios la libertad, mi ley, la fuerza y el viento, mi única patria, la mar."
Saudações atlânticas
João Coelho
PS - Se quiserem conhecer o texto completo, cliquem no Google, "Canción del Pirata" de José de Espronceda. Vale a pena.
Esta Elisabete surpreende sempre, não é, Margarida? Há almas fadadas para serem assim. Felizes de nós que gozamos da sua amizade. Aqui deixo os agradecimentos que deveriam estar no artigo anterior, sobretudo pelo poema que num mar de querer bem que foi dedicado. Uma pergunta para o João Coelho. Sir Francis Chichester já não tinha sofrido uma paralisia quando deu essa volta ao Mundo?
Caro Daniel, não tenho noticia dessa paralisia,mas sim do tal diagnóstico de cancro. O Sir F.Chichester era um homem das Arábias. Tendo feito fortuna na Nova Zelândia (que perdeu com a crise de 29) foi a Inglaterra e comprou um avião, Gipsy Moth, com o qual viajou, só, até à N.Zelândia, em 41 dias. Poucas semanas antes de morrer, em 1972, por via do tal cancro, ainda tentou nova viagem, mas não conseguiu. Nestas coisas do mar aparecem, entretanto, autênticos malucos, como, por ex. um tal Jon Sanders que fez uma tripla volta ao mundo, em solitário, passando 657 dias a navegar..ou o Ben Carlin que comprou um "jeep" anfibio, excedente de guerra, fez-lhe algumas adaptações,baptizou-o de "Half Safe", agarrou na mulher e meteu-se a dar a volta ao mundo, com saída do Canadá em 1950, e regresso ao mesmo país em 58 (ainda me recordo, criança, de os ver com o "jeep" na rampa da Aviação Naval, em P.Delgada). Outro que também fez sucesso foi John Riding que, nos anos 60, atravessou a Atlântico num barquinho à vela chamado "Sea Egg", com pouco mais de 3 metros de comprimento, passando também pelos Açores (desapareceria no mar, no mesmo barco, em 1973, na Tasmânia) Mas também temos senhoras nestas viagens em solitário, à volta do mundo..como Naomi Jones, em 78, Florence Arthaud (que aos 17 anos sofreu um acidente de carro, que a colocou em coma e paralizada durante algum tempo)Isabelle Autissier que, em 99, ao participar em mais uma aventura viu o seu barco virar-se, ficando ela presa no interior até ser salva por outro participante na regata (não voltou a navegar a solo..) e ainda, mais recentemente, uma miúda do Reino Unido, Ellen MacArthur, que em 2005 se tornou no ser humano a efectuar a volta ao mundo mais rápida, à vela e a solo, em 71 dias e 14 horas. E há mais: Krystyna Chojnowska-Liskiewicz, Kay Cottee, Dee Caffari e Tania Aebi (a mais nova de sempre, até hoje, com 18 anos). Finalmente, é de salientar a Marinha norueguesa que utiliza periódicamente um dos seus navios-escola à vela (têm dois grandes veleiros ) com tripulação quase completamente feminina..Em 92, na regata do 5º Centenário de Colombo, cruzei-me com elas, ia eu na caravela "Boa Esperança", no porto de Cádiz e era vê-las a bordo da nossa "Sagres" (que também participava)aproveitando o baixo preço e a venda sem limite da cerveja portuguesa..gostavam da cerveja a sentiam-se bem com os nosso jovens marujos.. Enfim, perco-me com estas escrevinhações..Procurando redimir-me deixo à avaliação (cruzes, canhoto..)das senhoras e senhores que aqui vêm (com destaque para a musa tradutora de emoções, Ibel) um poeminha atribuído a um marinheiro norte-americano dos tempos da 2ªGuerra, Robert M. Cusick. .
"There are no roses on a sailor's grave No lilies on a ocean wave The only tribute is the seagull's sweeps And the teardropes that a sweetheart weeps."
7 comentários:
Não sei onde foste buscar isto, mas já mandei a todos os que eu podia!
Obrigada, Elisabete.
Este meu primo é o único Madruga que sai a meu Pai. Não é "Tal pai, tal filho", mas sim "Tal tio, tal sobrinho".
É grande a satisfação pelos feitos deste meu primo. Ainda outro dia dizia, não sei a quem, "meu primo está cumprindo o V Império". Ele é o único que está cumprindo o sonho do povo português que "deu novos mundos ao mundo" e quer ser GRANDE, mas perdeu a coragem de singrar em frente e apenas chora o que já não tem. Aqui não há D. Sebastião para resgatar o que quer que seja. Aqui há um homem de carne e osso que não teve medo de seguir um sonho, palpável e possível. Perseguiu o sonho e nunca soçobrou.
Ele é o mito real; ele é o novo peregrino que leva os sonhos das nossas gentes até outras gentes, outras paragens; ele é cada um de nós, na ânsia de alcançar o infinito, a imortalidade.
Bem hajas, Genuíno, por nos dares este condão de ainda acreditar. Graças a ti tornámo-nos MAIORES.
Ditosa Pátria que tal filho tem!!!
É mais do que justo lembrar aqui Genuíno Madruga, homem do Pico "naturalizado "faialense", que eu julgo ser o primeiro português a fazer a volta ao Mundo, em solitário, com passagem pelo mitíco Cabo Horn, no sentido Este-Oeste - o mais dificil.
De acordo com a tradição, G.Madruga adquiriu o direito de usar argola na orelha direita (o lado que deu ao Cabo), por o pé em cima de mesa de Almirante e, desculpem, "de mijar contra o vento"..Coisas do tempo dos "cap-horniers", como chamavam aos marinheiros que passavam por aquele Cabo, no tempo das navegações à vela.
Manuel Martins, outro solitário português, comissário da TAP, já fez a circum-navegação,mas optou pela mais "fácil", passando do Atlântico para o Pacifico pelo canal do Panamá. Outros portugueses fizeram a volta ao Mundo, mas sem ser a solo. Genuíno Madruga merece respeito e admiração, por fazer parte daquele grupo - não muito grande - de gente do mar que persegue um sonho até o cumprir. Está de acordo com as melhores tradições daqueles que, há mais de 40 anos, passavam pelo Café Sport, na Horta, que então não tinha metade da dimensão que tem hoje,e onde o velho Henrique Azevedo, sempre pendurado no seu cachimbo, e acompanhado pelo filho José (o Peter) os recebia e ajudava. À época chamavam-lhes os faialenses, "aventureiros" - e era isso que, na verdade, eles eram. Atiravam-se ao mar em embarcações quase rústicas, sem meios auxiliares, sem rádio e sem motor, navegavam em qualquer estação do ano - eram gente diferente e o próprio aspecto o evidenciava. O Genuíno diz que um deles, Marcel Bardiaux, o inspirou; dessa geração houve um outro, Bernard Moitessier, também francês, que em 1968 participou na lª volta ao Mundo, em solitário, sem escalas (sem paragens). Pois o homem ganhou uma tal paixão pelo mar que, à chegada e depois de centenas de dias no mar, resolveu continuar, fazendo mais 3 meses de navegação até às ilhas do Pacifico onde depois se fixou. Outro muito conhecido, e que era amigo do "Peter" foi Sir Francis Chichester, um homem que começou nos aviões para passar depois aos iates; já depois de ter sido armado Cavaleiro pela rainha Isabel, com 68 anos e com um cancro diagnosticado, voltou ao mar para fazer mais uma circum-nevagação...
Podia ficar aqui que tempos, a falar sobre esta gente, e a lembrar como era a Horta e o Faial nos idos de 60, quando conheci o Peter, o seu pai Henrique e os clientes que frequentavam o Café Sport..num soturno, ventoso e chuvoso mês de Dezembro..
Em geito de parabéns ao Genuíno Madruga, aos picoenses, faialenses, açorianos - e também à prima "Mar de Bem" - deixo aqui um extracto da "Canción del Pirata", poema do espanhol José de Espronceda (século 19), um fabuloso hino à Liberdade, com o mar por tema..
"Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar."
Saudações atlânticas
João Coelho
PS - Se quiserem conhecer o texto completo, cliquem no Google, "Canción del Pirata" de José de Espronceda. Vale a pena.
Margarida e João,
Muito bem se escreve por aqui. Obrigada pelas informações.
Abraço para os dois.
Margarida,
Já conhecia (Claro!) o Genuíno Madruga, mas não tinha a certeza do vosso parentesco. Parabéns pelo primo.
João,
O que eu aprendo contigo!...
Esta Elisabete surpreende sempre, não é, Margarida? Há almas fadadas para serem assim. Felizes de nós que gozamos da sua amizade.
Aqui deixo os agradecimentos que deveriam estar no artigo anterior, sobretudo pelo poema que num mar de querer bem que foi dedicado.
Uma pergunta para o João Coelho. Sir Francis Chichester já não tinha sofrido uma paralisia quando deu essa volta ao Mundo?
Caro Daniel, não tenho noticia dessa paralisia,mas sim do tal diagnóstico de cancro. O Sir F.Chichester era um homem das Arábias. Tendo feito fortuna na Nova Zelândia (que perdeu com a crise de 29) foi a Inglaterra e comprou um avião, Gipsy Moth, com o qual viajou, só, até à N.Zelândia, em 41 dias.
Poucas semanas antes de morrer, em 1972, por via do tal cancro, ainda tentou nova viagem, mas não conseguiu.
Nestas coisas do mar aparecem, entretanto, autênticos malucos, como, por ex. um tal Jon Sanders que fez uma tripla volta ao mundo, em solitário, passando 657 dias a navegar..ou o Ben Carlin que comprou um "jeep" anfibio, excedente de guerra, fez-lhe algumas adaptações,baptizou-o de "Half Safe", agarrou na mulher e meteu-se a dar a volta ao mundo, com saída do Canadá em 1950, e regresso ao mesmo país em 58 (ainda me recordo, criança, de os ver com o "jeep" na rampa da Aviação Naval, em P.Delgada). Outro que também fez sucesso foi John Riding que, nos anos 60, atravessou a Atlântico num barquinho à vela chamado "Sea Egg", com pouco mais de 3 metros de comprimento, passando também pelos Açores (desapareceria no mar, no mesmo barco, em 1973, na Tasmânia)
Mas também temos senhoras nestas viagens em solitário, à volta do mundo..como Naomi Jones, em 78, Florence Arthaud (que aos 17 anos sofreu um acidente de carro, que a colocou em coma e paralizada durante algum tempo)Isabelle Autissier que, em 99, ao participar em mais uma aventura viu o seu barco virar-se, ficando ela presa no interior até ser salva por outro participante na regata (não voltou a navegar a solo..) e ainda, mais recentemente, uma miúda do Reino Unido, Ellen MacArthur, que em 2005 se tornou no ser humano a efectuar a volta ao mundo mais rápida, à vela e a solo, em 71 dias e 14 horas. E há mais: Krystyna Chojnowska-Liskiewicz, Kay Cottee, Dee Caffari e Tania Aebi (a mais nova de sempre, até hoje, com 18 anos).
Finalmente, é de salientar a Marinha norueguesa que utiliza periódicamente um dos seus navios-escola à vela (têm dois grandes veleiros ) com tripulação quase completamente feminina..Em 92, na regata do 5º Centenário de Colombo, cruzei-me com elas, ia eu na caravela "Boa Esperança", no porto de Cádiz e era vê-las a bordo da nossa "Sagres" (que também participava)aproveitando o baixo preço e a venda sem limite da cerveja portuguesa..gostavam da cerveja a sentiam-se bem com os nosso jovens marujos..
Enfim, perco-me com estas escrevinhações..Procurando redimir-me deixo à avaliação (cruzes, canhoto..)das senhoras e senhores que aqui vêm (com destaque para a musa tradutora de emoções, Ibel) um poeminha atribuído a um marinheiro norte-americano dos tempos da 2ªGuerra, Robert M. Cusick. .
"There are no roses on a sailor's grave
No lilies on a ocean wave
The only tribute is the seagull's sweeps
And the teardropes that a sweetheart weeps."
Saudações marinheiras
João Coelho
Grande Genuíno!
A audácia do Homem do Pico!
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