GASPAR FRUTUOSO nasceu em Ponta Delgada, em 1522. Estudou Artes e Teologia na Universidade de Salamanca, entre 1548 e 1558. Chegou à, então, vila da Ribeira Grande em 1565, onde foi o 7º Vigário da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela. É considerado o grande cronista das Ilhas. A sua obra Saudades da Terra, é uma fonte imprescindível para o conhecimento dos tempos do povoamento dos Açores e, em especial, da ilha de S. Miguel.
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A DESCOBERTA DOS AÇORES
Quando eu andava na Escola Primária (1956/60), o meu livrinho de História (para a 4ª Classe do Ensino Primário Elementar) rezava assim: “Em 1431, Gonçalo Velho Cabral descobriu uma das ilhas dos Açores, a que deu o nome de Santa Maria. De facto, durante muito tempo, pensou-se que assim teria sido. Esta é a versão de Gaspar Frutuoso (cronista açoriano do séc. XVI) que, baseando-se na tradição oral e, talvez, na afirmação de João de Barros de que, em 1449, era dada autorização, ao Infante D. Henrique, para “... que pudesse mandar povoar as sete[1] ilhas dos Açores, as quais naquele tempo eram descobertas e nelas lançado algum gado por mandado do mesmo Infante por um Gonçalo Velho...”. Claro que não há aqui prova de que foi ele o descobridor. Apenas confirma o facto de Gonçalo Velho Cabral ter sido o primeiro capitão-donatário das ilhas de Santa Maria e de S. Miguel. Hoje, a maioria dos historiadores aceita que os Açores foram, de facto, descobertos por Diogo de Silves, marinheiro do Infante D. Henrique, no ano de 1427. Isto mesmo é afirmado num mapa do catalão Gabriel de Valsequa, de1439, onde o arquipélago surge representado com rigor. No entanto, parece consensual a ideia de que o arquipélago açoriano já era conhecido antes do séc. XV e que esta “redescoberta” se destinava a reclamar a sua posse para Portugal e proceder ao seu povoamento, uma vez que eram desertas. Na recente publicação da ÉSQUILO, “O Mistério Colombo Revelado”, de Manuel da Silva Rosa e Eric J. Steele, diz-se: [...] “...é provado pela descobertas das Ilhas dos Açores, antes de 1424.” (pág. 79); [...] “...As ‘Ilhas’ são os Açores, que se podem ver claramente a oeste de Lisboa neste mesmo mapa das Antilhas de 1424.” (...) Os Açores são habitualmente chamados pelos Portugueses «as ilhas» e antigamente também eram conhecidos como as ilhas terceiras, sendo esta a principal razão para a terra Ante-ilhas ter adquirido o seu nome.” Portanto, neste mapa de Zuane Pizzigano, de 1424, estava perfeitamente representado o arquipélago dos Açores e, ainda, a oeste dos Açores, terras a que Portugal chamava “Antilias” (também conhecidas por Antilias ou Antilhas), o que quer dizer “em frente às ilhas” dos Açores. Parece estar demonstrado que Portugal tinha conhecimento de território americano, antes de Colombo. Relativamente ao caso da Ilha de S. Miguel, Gaspar Frutuoso data o seu descobrimento de 1444, o que seria possível pela data apresentada por João de Barros, acima. No entanto, existe uma carta de D. Afonso V, datada 2 de Julho de 1439, que autoriza seu tio, o Infante D. Henrique, a mandar povoar as sete ilhas dos Açores. Portanto, pelo menos em 1439, já só faltava descobrir Flores e Corvo.Como vemos, não há grandes certezas em ralação às datas certas da descoberta das ilhas. Não podemos esquecer, no entanto, que o iniciador das viagens de descobrimento foi o Infante D. Henrique, governador da Ordem de Cristo que detinha muitos segredos dos antigos Templários. Podemos dizer que, desde início, a expansão marítima é sujeita a uma política de secretismo, e até de divulgação de dados falsos, para afastar e confundir os Castelhanos, nossos principais adversários. É possível que o nosso movimento expansionista esteja ligado a missões e projectos da própria Ordem de Cristo, herdeira da extinta Ordem dos Templários.
[1] As ilhas do grupo ocidental, Flores e Corvo, só seriam, oficialmenta, descobertas em 1452, por Diogo de Teive.
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"A ideia que temos de um paraíso na Terra é quase sempre uma ilha. Mesmo quem vive em alguma sonha-o sempre em outra, muito longe. E nos Açores há nove, porque, como muitas outras, estas ilhas são as mais belas do Mundo. Há quem pense que já se sabia da sua existência antes de aqui chegarem portugueses, no século XV, mas essa crença tem o valor histórico de uma fábula. Nas cartas náuticas desse tempo era costume desenhar ilhas imaginárias nas lonjuras desconhecidas dos mares, dando-lhes nomes de lendas e de mistérios. Faltando muitas informações à nossa curiosidade acerca do seu descobrimento, até a carta do maiorquino Gabriel de Valsequa, feita em 1439, e que vale como certidão de nascimento do arquipélago, sofreu um borrão de tinta que ocultou parte do nome do descobridor, o qual, antes disso, o também maiorquino Pasqual interpretara, já com muita dificuldade, como sendo Diego de Guullen. (Tê-lo-á influenciado a semelhança deste nome com o de Gullén de las Casas, que foi feito senhor das Canárias em 1437?...) No entanto, e apesar de várias outras hipóteses, é geralmente aceite a opinião do historiador Damião Peres de que o descobridor dos Açores terá sido Diogo de Silves, em 1427."
Texto de Daniel de Sá (que ouso publicar como enriquecimento do que foi dito)
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