sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Ah! Mònim dum corisco!

Onésimo Teotónio Almeida
Há muito que desejava ler o “Ah! Mònim dum Corisco!”, de Onésimo Teotónio Almeida.
Felizmente, uns amigos encontraram-no na Feira do Livro, em Ponta Delgada, e trouxeram-mo (acompanhado de mais alguns, mas só de escritores açorianos), no Natal.
É, de facto, uma delícia. Ainda me lembro dum espectáculo excelente do “Pontilha”, no Teatro Ribeiragrandense, nele inspirado, aquando do lançamento de uma outra obra deste autor.
***
Começa com os seguintes versos cantados com a música da “Charamba” da Terceira:
***
Boa noite, meus senhores,
Senhoras e belas flores
Que aqui estão neste salão.
Para vós vou eu cantar
E a todos quero saudar
Do fundo do coração.
***
Hai! Gudívnim, Gudenaite, [Hi! Good evening, good night]
Vocês ‘tão todos òráite, [Vocês estão todos all right]
Luke! Yu bérabi, camâne! [Look! You better be, come on]
Vamos ter um naice shó, [Vamor ter um nice show]
Que até no Cirió [Que até no City Hall]
Vão dizer:Sanavagâne! [Vão dizer:Son of a Gun!]
***
Coro:
Ah! Mònim dum corisco! [Ah! Dinheiro dum corisco!]
***
Passaram-se milhas,
Ficaram as ilhas
Tão longe, pra lá;
E a gente que veio
Ficou de permeio,
Nem além nem cá.
É outra esta terra,
É outra esta gente,
E o Joe, que era Zé,
Lá dentro até sente
Que agora já é
Nas ilhas ausente;
Mas sabe também
Que ainda não tem
Aqui o seu pé
Seguro e assente.
Ausente-presente,
Quer cá como lá,
Aquém como além,
Ao meio partido,
O Joe que era Zé,
Não sabe se até,
Assim dividido,
É um dois ou três,
João ou Jànim, [Johnny]
Se Frank ou Francisco;
E ignora outra vez
Que a culpa, enfim,
É só do mònim,
Mònim dum corisco!
***
Enfim... a aventura do emigrante açoriano na América. Mas bom mesmo, para mim, foi relembrar frases e expressões como estas:
***
“Mamã que vá que eu fico cá fora de guarda.”
“... eles não vam dá os papeles amaricanos...”
“Eh, home, pela tua saúde. Deixa-me as políticas da mão.”
“Como é agora isso?”
“... quer dizer que os homens e as mulheres é iguales...
- Tava aí um bonito trabalho!”
“Ah, senhora, ...”
“Corisca mulher aquela!”
“E é amanhar.”
“Meu sogro está a sonhar alto. (...) O meu sogro deixe lá isso.”
***
Que saudades do falar michaelense!... E que comovente as preocupações do Tio Costa:
***
“Eh, home! E se a América entra em guerra com Portugal, por que lado é que a gente tira parte?”
[...]
Diálogo entre a Tia Evangelina e o Tio Costa:
“ - Eh, home? Para que é agora que foste perguntar se podias jurar a bandeira amaricana com uma mão na algibeira do casaco?
- Ó mulher, é porque eu tenho cá uma coisa cá dentro por causa desse juramento. Eu penso na minha rica terra onde eu nasci...
- E ó depois, vai daí?
- Era que se eu pudesse estar com uma mão na algibeira do casaco quando eu estivesse a jurar, eu levava comigo escondido na algibeira uma bandeirinha portuguesa pequenina e agarrava-a com a mão. Ninguém desconfiava. Da boca para fora era para a amaricana, mas cá para mim, não pegava nada, que a nossa é que contava!”
***
Lindo, Tio Costa!!!

5 comentários:

Anónimo disse...

Lê-se...e fica-se com a "alma lavada".

Onésimo disse...

Cara Elisabete:
Chamaram-me a atenção para o seu blogue.
Grato pelas palavras simpáticas.
Deduzo que andava pela Ribeira Grande quando por lá estive a fazer gravações para a RTP-A, bem como quando lancei o meu "Viagens na Minha Era".
Podíamos ao menos ter tomado um café.
Obrigado pela publicidade que faz daquela bela ilha.
Abraço do
onésimo

Elisabete disse...

É uma delícia, José Augusto. Qualquer dia meto-me com a sua ilha que é também muito bonita.
Obrigada pela sua atenção.

Elisabete disse...

Mas que grande surpresa!!! Não contava nada com o comentário do Onésimo.
É para mim um grande orgulho.
De facto, vi-o algumas vezes lá pela Ribeira Grande, mas nunca me atrevi a falar-lhe.
Vou lendo o que escreve e creia que tem em mim uma admiradora.
Continua, então, pelos "States"?...
Muitas felicidades e muito obrigada por ter contactado.
Um abraço

Onésimo disse...

E eu, que me julgo o mais abordável dos indivíduos, ainda encontro destas!
Fez muito mal em não me ter falado. Se me der o seu contacto, da próxima vez que eu passar por Braga contacto-a para me vingar.
Como pode não querer dar o seu contacto em público e o meu é público, aqui vai:
onesimo@brown.edu
Um abraço açoriano do
onésimo