Do Meu Vagar
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Já não há mais o vagar
de quando se comia sentado
e devagar se caminhava
até chegar a qualquer lado
agora vai toda a gente sempre
de mão na buzina
sempre na linha da frente
a tremer de adrenalina
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Do meu vagar não traço rotas
não tenho trilho que me prenda
não tiro dados nem notas
não encho uma linha de agenda
do meu vagar não chego a Meca
não faço nada num só dia
não corto a fita da meta
não vejo Roma nem Pavia
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Do meu vagar
sei que nunca hei-de ir longe
vou aonde for preciso
vou indo no meu vagar
em busca do tempo perdido
e se um dia o encontrar
o longe não faz sentido
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Do meu vagar há um nicho
um pico de ilha insubmersa
onde há lugar para o capricho
que dá pelo nome de conversa
do meu vagar a paisagem
ainda tem beleza em bruto
e vale mais uma palavra
que mil imagens por minuto
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Do meu vagar
sei que nunca hei-de ir longe
vou aonde for preciso
vou indo no meu vagar
em busca do tempo perdido
e se um dia o encontrar
o longe não faz sentido
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Carlos Tê [in LADO LUNAR, de Rui Veloso]
2 comentários:
É verdade,
Já não há mais o vagar
Do tempo que se acendia
Numa conversa sem pressa
Porque havia sempre dia.
Já não há mais o vagar
Da conversa sobre a mesa
E do tempo que sobrava
de eterna sobremesa.
Há pelo menos,vá lá!
Um amigo escondido
Por detrás de um blogue
A tentar falar comigo.
Beijinho, Elisabete!
Muito obrigada por colaborar e pelo "blogue". Um nome bonito para uma dona que escreve muito bem.
Demonstra grande sensibilidade e alma de poeta.
Isso é o mais importante. O resto aprende-se praticando.
Um beijo para si e parabéns.
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