[Ponta Delgada, 18 de Abril de 1842
Ponta Delgada, 11 de Setembro de 1891]
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TENTANDA VIA
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I
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Com que passo tremente se caminha
Em busca dos destinos encobertos!
Como se estão volvendo olhos incertos!
Como esta geração marcha sozinha!
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Fechado, em volta, o céu! o mar, escuro!
A noite, longa! o dia, duvidoso!
Vai o giro dos céus, vem vagaroso...
Vem longe ainda a praia do futuro...
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É a grande incerteza, que se estende
Sobre os destinos dum porvir, que é treva...
É o escuro terror de quem nos leva...
O futuro horrível que das almas pende!
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A tristeza do tempo! o espectro mudo
Que pela mão conduz... não sei aonde!
– Quanto pode sorrir, tudo se esconde...
Quanto pode pungir, mostra-se tudo. -
***
Não é a grande luta, braço a braço,
No chão da Pátria, à clara luz da História...
Nem o gládio de César, nem a glória...
É um misto de pavor e de cansaço!
***
Não é a luta dos trezentos bravos,
Que o solo amado beijam quando caem...
Crentes que traz um Deus, e à guerra saem,
Por não dormir no leito dos escravos...
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É a luta sem glória! é ser vencido
Por uma oculta, súbita fraqueza!
Um desalento, uma íntima tristeza
Que à morte leva... sem se ter vivido!
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Não há aí pelejar... não há combate...
Nem há já glória no ficar prostrado –
São os tristes suspiros do Passado
Que se erguem desse chão, por toda a parte...
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É a saudade, que nos rói e mina
E gasta, como à pedra a gota d'água...
Depois, a compaixão, a íntima mágoa
De olhar essa tristíssima ruína...
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Tristíssimas ruínas! Entristece
E causa dó olhá-las – a vontade
Amolece nas águas da piedade,
E, em meio do lutar, treme e falece.
***
Cada pedra, que cai dos muros lassos
Do trémulo castelo do passado,
Deixa um peito partido, arruinado,
E um coração aberto em dois pedaços!
***
II
***
A estrada da vida anda alastrada
De folhas secas e mirradas flores...
Eu não vejo que os céus sejam maiores,
Mas a alma... essa é que eu vejo mais minguada!
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Ah! via dolorosa é esta via!
Onde uma Lei terrível nos domina!
Onde é força marchar pela neblina...
Quem só tem olhos para a luz do dia!
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Irmãos! irmãos! amemo-nos! é a hora...
É de noite que os tristes se procuram,
E paz e união entre si juram...
Irmãos! irmãos! amemo-nos agora!
***
E vós, que andais a dores mais afeitos,
Que mais sabeis à Via do Calvário
Os desvios do giro solitário,
E tendes, de sofrer, largos os peitos;
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Vós, que ledes na noite... vós, profetas...
Que sois os loucos... porque andais na frente...
Que sabeis o segredo da fremente
Palavra que dá fé – ó vós, poetas!
***
Estendei vossas almas, como mantos
Sobre a cabeça deles... e do peito
Fazei-lhes um degrau, onde com jeito
Possam subir a ver os astros santos...
***
Levai-os vós à pátria-misteriosa,
Os que perdidos vão com passo incerto!
Sede vós a coluna de deserto!
Mostrai-lhes vós a Via-dolorosa!
***
III
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Sim! que é preciso caminhar avante!
Andar! passar por cima dos soluços!
Como quem numa mina vai de bruços
Olhar apenas uma luz distante!
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É preciso passar sobre ruínas,
Como quem vai pisando um chão de flores!
Ouvir as maldições, ais e clamores,
Como quem ouve músicas divinas!
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Beber, em taça túrbida, o veneno,
Sem contrair o lábio palpitante!
Atravessar os círculos do Dante,
E trazer desse inferno o olhar sereno!
***
Ter um manto da casta luz das crenças,
Para cobrir as trevas da miséria!
Ter a vara, o condão da fada aérea,
Que em ouro torne estas areias densas!
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É, quando, tem temor e sem saudade,
Puderdes, dentre o pó dessa ruína,
Erguei o olhar à cúpula divina,
Heis-de então ver a nova-claridade!
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Heis-de então ver, ao descerrar do escuro,
Bem como o cumprimento de um agouro,
Abrir-se, como grandes portas de ouro,
As imensas auroras do Futuro!
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Aconselho ouvir "A NOITE", de
José Mário Branco, com base neste
poema do meu "enorme" e amado Antero
14 comentários:
Não conhecia este poema de Antero de Quental. às vezes parece que existem mais que coicidências, porque vim ler as palavras que precisava.
Sou natural das "Ilhas encantadas"
"Portas de Ouro/ imensas auroras do Fururo/".
Só foi pena Antero não ter acreditado na profecia das suas palavras com convicção, pois não teria acabado "vencido", descrente dos sonhos de platina da sua juventude.E que pena que foi!
É tão grande Antero, é tão forte este homem na sua garra poética de entusiasmo, que a gente vai atrás do verso até ao fim, lendo para dentro,interiorizando cada sorvo de palavra e gradencendo o seu legado de ouro da palavra.
Mas o poem empurra para a luta. Vamos a isso!
Abraço e obrigada!
Por mim, já lá estou.
Tenho muita pena de que o poeta, o político, o revolucionário, o filósofo e o homem bom que Antero foi não seja conhecido, como merece, pelo povo português.
Beijinhos
Elisabete,
Vi uma fotografia da antiga escola Comercial de Barcelos.Andou por esses lados?
Eu vivi muitos anos nessa cidade e o meu pai era de lá.
Estudei muitas vezes em casa de uma amiga que vivia perto dessa escola e a última casa, ao cimo da rua- parte lateral direita da escola era de uma minha tia paterna.
Abraço.
É verdade. Nasci em Barcelos, mas vim estudar para o Porto, após ter completado o antigo 5º ano do Liceu e por cá fiquei. A fotografia... foi uma casualidade. Procurei no google a imagem duma Escola e encontrei-a. Acabei por pôr uma Escola de Barcelos e um Liceu do Porto.
O mundo é pequeno, não é?
Já agora, como em Barcelos não havia Liceu,tive de ir fazer o meu exame de 5º ano ao Liceu D. Maria II, em Braga.
Beijinhos
Elisabete,
Estudei no colégio Alcaides de Faria até ao segundo ano . Depois fui para Braga estudar para casa de uma tia e frequentei o liceu Dona Maria II até acabar o sétimo ano e partir para Coimbra, embora tenha vindo para o Porto no terceiro ano da faculdade.
Estou curiosa...
Beijinho
Pois eu também frequentei o Alcaides de Faria do Dr. Viriato e do Sr. Sousa.
Não sei é se nos cruzámos. Sou um pouquito mais velha e só lá frequentei o 3º Ciclo.
Fui aluna do Padre Alberto,D. Mª Manuela, Drª Loló, D. Mª Júlia, Drª Ema, e do Dr. Viriato que dava Inglês, sendo de Românicas.
Claro que os conhece.
Creio que o edifício é, agora, sede do PS e está ficando degradado, o que é pena.
Beijinhos
Elisabete,
Quase que levei uma coça da mulher do Dr.Viriato, porque um dia,(devia saber do mau génio dela),fui para o recreio (e que saudades daquele espaço!)cantar e ensaiar com as amiguinhas, uns versos que começavam assim:
No colégio Alcaides de Faria
Há um romance de amor
Entre a Lina que é peixeira
E o Viriato que é professor.
Do resto não me lembro, pois eu era muito novinha.Mass lembro-me das gargalhadas e do castigo.Levezinho!
A Dona Manuela foi a melhor professora de Francês que tive ao longo da vida e foram bastantes, pois sou de românicas.
Hei-de falar de Barcelos nos Frutos.Aliás, um dos primeiros textos, fala do Colégio de Santa Maria. Conheceu?
Com certeza percebeu que me enganei quando disse que fiz o 3º Ciclo no Alcaides de Faria. Agora é que é assim. Fiz foi o 2º Ciclo dos Liceus. O 3º já foi no Porto.
Claro que me lembro da D. Idalina. Aliás, a dada altura dava-nos para irritar a senhora, cantando as canções do António Mafra (se não me engano...), na varanda das traseiras, e ela ficava furiosa. Tolices de adolescentes.
No Colégio Santa Maria, fiz a 1ª e a 2ª classes. Não me diga que também lá andou!...
Fui ver o "post" das primeiras memórias nos Frutos.
Engraçado: a vida é feita de coincidências. Não me lembro se estive lá antes da Primária, mas é possível. O que até parece impossível, é o facto de a irmã Pia Maria ter sido a minha professora. Sempre gostei dela. Já a irmã S. Teotónio, que era professora duma prima minha,provocava-me um certo receio.
As minhas memórias são um pouco diferentes. Na minha sala, havia duas gémeas que choravam se eram separadas. Lembro-me da sala, creio que nas traseiras, onde aprendi a bordar, do recreio, das minhas "perrices" para comer a sopa, dentro da qual punham uma fatia de queijo muito amarelo. Coitadas das freiras! Às vezes, até me davam santinhos para eu a comer. Do que gostava mesmo era de ir ver fazer as hóstias. Claro que, depois, me tocavam alguns dos restos dos recortes.
Veja lá, como estivemos próximas e não sabíamos.
Estou muito orgulhosa de si. É uma alma linda e, descobrir alguém assim, reconcilia-me um pouco com a espécie humana.
Beijinhos
A irmã "Santitónio" era séria e grave, alta e magra; a irmã Pia Maria era roliça e corada, se a memória não me atraiçoa.Eu gosto das duas ainda, através da memória de uma infância perdida onde havia um pai e uma mãe e o tempo sem algemas, dado à alma para sonhar.
No refeitório havia ainda o óleo de fígado de bacalhau, sempre obrigatoriamente empurrado pela garganta abaixo e com as lágrimas a cair.A fatia de qeijo era um pesadelo.
Mas o espaço de recreio era lindo e amplo e com uma escadaria do lado direito com uma árvore com cachos de violeta, mal despontava a Primavera.O meu olhar corria aquilo tudo e espreitava para baixo.Penso que se via a Escola Comercial.
Mas onde me leva esta memória e esta saudade?
Continua...
Grande Beijo
Também me lembro do óleo de fígado de bacalhau e da sensação agradável do espaço do recreio.
Ibel, noto-a um pouco triste. Não desanime! A vida, como nós, oscila entre a grandeza e a miséria, mas é, muitas vezes, agradavelmente surpreendente. Não se admire se algum dia me ouvir dizer o contrário. Não passamos de cegos desorientados a bater com as cabeças nos muros que, muitas vezes, nós próprios criamos. Por isso, devemos amparar-nos uns nos outros, para sobreviver. E ir, de vez em quando, aos Açores "lavar a alma".
Beijinhos
P.S. Quando puder, mande-me um mail, por favor. Não sei como, mas o seu endereço desapareceu. Obrigada!
Vou explicar, no Luar de Janeiro, como fazer comentários. Várias pessoas se queixaram de não conseguir e fiz eu a experiência que resultou.
Para O neto do Doutor Viriato
Eu era catraia de dez anos quando fiz os versinhos e nessa época há a irreverência própria da idade.
Garanto-lhe que recordo com saudade o seu av^e a sua avó.Passei momentos inesquecíveis naquele espaço e recreio maravilhosos.Os alunos iam para exame muito berm preparados.
Espeo que volte aqui e que leia este comentário.
De qual das filhas do Doutor Viriato é filho? A minha mãe era professora e muito amiga de uma delas.
Um forte abraço
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