A Adega Lusitânia, em Angra do Heroísmo, conheci-a nos anos 60, quando era ainda uma tasca, onde se comia bom peixe porque o dono era pescador… Chão de terra, espaço escuro e um bocado "encardido", não tinha nada a ver com o que é hoje, funcionando num tempo em que a cidade só tinha praticamente um restaurante, o "Beira Mar", junto ao Pátio da Alfândega.
Na Lusitânia, havia um grupo que mantinha uma "tradição" muito própria: por altura da tourada à corda do Alto das Covas, metiam-se na tasca, vendo os touros e o pessoal a correr de um lado para o outro. Quando percebiam que um dos bichos já estava um bocado farto de tanta correria, faziam-lhe uma pega, e metiam o focinho do animal na entrada da taberna… onde outros, já preparados, enfiavam um barrilete de vinho pela boca do bicho abaixo. E depois ficavam a apreciar o percurso do animal, tornado companheiro de Baco, a trocar as patas pelo caminho fora… Coisas que hoje seriam censuráveis… mas que, na altura, eram apreciadas pelo pessoal, da terra ou forasteiros.
7 comentários:
Oh, a censura... A censura... :(
Hoje o obrigada estende-se também ao João Coelho.
Este João traz-nos cada memória! Nessa "Adega" comi uma da sopas mais deliciosas que se podem imaginar. Creio que ainda a fazem.
Quanto ao Beira-Mar, conheci-o no início da década de 1960. Até pouco antes trabalhara lá como cozinheiro um primo meu.
Agora a propósito de um comentário em outro "post": Auschwitz é o pesadelo da nossa perplexidade.
Meus amigos,
O João, de vez em quando, dá-nos uns "mimos" que consolam.
A sopa continua a ser muito boa e vem para a mesa sem ser preciso pedir. É obrigatória, dizem eles.
O Daniel tem uma frase que eu queria pôr, como introdução, no texto de Auschwitz, porque não posso estar mais de acordo. Diz mais ou menos: O pior castigo para os nazis seria restituir-lhes a consciência.
Infelizmente, não consegui encontrá-la, mas sei que a tenho guardada.
Abraços
Como diz o Palma.."enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar..enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar.."
E depois, está-se bem por aqui, em boas companhias..e aprende-se.
De resto, memórias tenho,como vocês, quase todas, no meu caso, consequência da circunstância de ter nascido e vivido - até aos 30 anos - em P.Delgada, S. Miguel, Açores..e da saudade, quase física, que tenho dos meus tempos de menino na Rua Coronel Miranda, vulgo Rua do Saco, ali, a beirar o Largo 2 de Março.
Acresce que, já adulto, e por via da minha profissão, tinha de "ir às ilhas" (como se S.Miguel não fosse também uma ilha..)em viagens por vezes díficeis - nos anos 60, quando o Faial ainda não tinha Aeroporto - navegando no "Ponta Delgada", com os ventos de Dezembro e parando em todas as "freguesias" - Angra ou Praia da Vitória,na Terceira, Sta. Cruz ou Praia, na Graciosa, Velas ou Calheta, em S.Jorge, Cais ou Lages, no Pico, conforme mandava o mar..
E assim lá ia conhecendo as tascas daqui e dali, os petiscos mais invulgares (espinha de moreia frita, por exemplo..) e algumas figuras picarescas que praticavam o "desporto" mais comum nessa época: comer e beber, muito. No Faial havia até um grupo, crismado de "Oito + 1" - Oito eram os faialenses, mais um era o forasteiro, o que chegasse..E como eles se pelavam por apanhar um cristão-novo..Por tal forma que em meia dúzia de viagens à Horta, com 25 ou 26 anos, rapaz bem posto,solteirinho da costa, nunca consegui conhecer ninguèm fora daquele grupo; todos os dias havia petisco - ele eram lagostas ou cavacos, comidos à mão, às metades, chernes, garoupas, polvo, linguiça com ovos estrelados e inhame..tudo acompanhado por muito vinho do Pico, acabadinho de trazer da adega de fulano ou sicrano, lá do outro lado do Canal..A que se juntava uma manifestação diurna, o ritual do fim de semana - uma excursão automobílistica, para apreciação e abalizados comentários à evolução das obras do Aeroporto, em Castelo Branco..Com chuva ou com sol e lá se ia, o local para montar arraial sempre numa posição que permitisse uma vista panorâmica sobre o conjunto do terreno - para garantir critica fundamentada. Enquanto se perorava sobre o andamento dos trabalhos, ia-se provando o farnel e o tinto, bebido de um palhinhas de 5 litros..
Mas o clímax, esse chegava na noite de S.João - só apanhei uma no Faial - na Caldeira. Era a melhor ocasião para conhecer a população da Horta, porque toda a gente se instalava ao longo da estrada e na zona adjacente à Caldeira..com os comes e bebes a prolongarem-se pela noite fora..
Só voltei a assistir a uma situação deste tipo, com tanta gente bem comida e bem bebida, em Copenhague..imagine-se.. também numa noite de Junho, nos Jardins do Tivoli, da capital dinamarquesa. Era fim de semana, e os "ferry-boats" desembarcavam multidões de suecos que, com restrições na venda de bebidas alcoólicas no seu país, vinham desforrar-se à Dinamarca.. Às 11 da noite, ainda havia luz do Sol, às 2 e tal, 3 horas da madrugada, já era dia de novo, dia pleno..desnudando os resultados de horas de ingestão de alcoól - casais elegantissímos, grupos de senhoras, mais novas ou não, casais jovens, militares,enfim, população em geral, tudo embriagado..mas, com uma característica interessante; por toda a noite/dia, nenhum de nós, portugueses, assistiu a qualquer desacato..Decididamente, aquele pessoal estava ali, em Copenhague -que gosta de ser tida como a "Paris do norte" - só para beber, nada mais. Tal como na cidade da Horta, embora com mais convivio,(sempre somos latinos) nos anos 60..
Saudações atlânticas
com um abraço
PS- Belas palavras, as vossas, sobre Auschwitz-Birkenau. Bem hajam!
João Coelho
João,
Também gosto do Jorge Palma.
E de S. Miguel... saudade quase física... é isso! E eu só lá vivi cinco anos. Mas amo aquela ilha! E também gosto muito de todas as outras. São todas lindíssimas!!!
Um abraço
João,
As suas memórias recentes ou distantes são uma delícia.
Venham mais!
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