
VISÃO
A J. M. Eça de Queiroz
Eu vi o Amor – mas nos seus olhos baços
Nada sorria já: só fixo e lento
Morava agora ali um pensamento
De dor sem trégua e de íntimos cansaços.
*
Pairava, como espectro, nos espaços,
Todo envolto num nimbo pardacento…
Na atitude convulsa do tormento,
Torcia e retorcia os magros braços…
*
E arrancava das asas destroçadas
A uma e uma as penas maculadas,
Soltando a espaços um soluço fundo,
*
Soluço de ódio e raiva impenitentes…
E do fantasma as lágrimas ardentes
Caíam lentamente sobre o mundo!
Antero de Quental